Desde que a receita do cupcake foi publicada no livro Seventy-five receipts for pastry, cakes and sweetmeats, da americana Eliza Leslie, em 1828, esse “bolo de xícara”, numa tradução literal, ganhou mil versões e  uma fama que se mantém há quase dois séculos. O momento de glória do doce se deu na década de 1990, quando virou uma febre nas confeitarias americanas. Uma delas em especial se destacou, em meio a essa onda, que há cerca de dois anos chacoalha o Brasil: a nova-iorquina Magnolia Bakery. Aberta em 1996, no número 401, da Bleecker St., no badalado bairro do Greenwich Village, o lugar ficou mundialmente conhecido graças a quatro amigas, que, estando ou não de TPM, apelavam para o doce de seus cupcakes na hora de desabafar ou de revelar segredos íntimos. 

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Tabuleiro de delícias: nas vitrines das lojas da magnolia bakery, 19 tipos de cupcakes,
entre eles de baunilha e banana, fazem salivar a boca dos clientes, que formam filas só para degustar o seu 

As amigas eram Carrie, personificada pela atriz Sarah Jessica Parker, Miranda, vivida por Cynthia Nixon, Charlotte, interpretada por Kristin Davis, e Samantha, papel de Kim Cattrall, estrelas do cultuado e premiado seriado de tevê Sexy and the city (HBO), lançado em 1998 e que teve sete temporadas. De coadjuvantes da série cult, os cupcakes da Magnolia tornaram-se protagonistas da história da confeitaria moderna americana, fazendo a festa de adultos, crianças, reles mortais e celebridades de Hollywood, como a atriz Katie Holmes (leia mais no destaque). Atualmente seus bolinhos coloridos são vendidos em sete lojas espalhadas pelos EUA e mais uma em Dubai. Sua próxima parada será o Brasil. “Sentimos que o País é um dos locais mais interessantes no cenário mundial atual e oferece uma tremenda oportunidade para a nossa marca”, diz Steve Abrams, atual proprietário e CEO da Magnolia Bakery, que a comprou da fundadora Allysa Torey, em 2007.  

Com certeza, Abrams deve ter se animado com os números desse mercado de padarias e confeitarias que movimenta, por ano, cerca de R$ 53 bilhões e cresce 10% no País. ”Estamos em busca de parceiros brasileiros para abrir nossa primeira franquia no próximo ano.” Segundo o executivo, o endereço mais tropical da rede, que provavelmente irá se instalar em São Paulo, vai vender os mesmos tipos e sabores das lojas americanas, que hoje somam 19 opções: dos tradicionais baunilha e chocolate aos brasileiríssimos coco e banana, com noz-pecã. O preço dos bolinhos varia, nos EUA, de US$ 3 a US$ 3,50 a unidade. “Ainda não sabemos qual será o preço no Brasil”, afirma Abrams. “O certo é que seremos fieis às nossas receitas e à raiz desse clássico doce americano.”

 

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Como na casa da vovó: o visual retrô das lojas da rede remete a uma atmosfera aconchegante,

que lembra a boa e saborosa comida caseira  

 

Além dos cupcakes, a rede também vende bolos, inclusive de casamento, tortas e muffins (o primo inglês do cupcake, sem a graça das coberturas coloridas).  “Essa onda, na qual o cupcake está incluído, é a da ‘comfort food’, uma volta às raízes da comida caseira, com um verniz de modernidade”, diz Rita Corsi, professora de gastronomia e chef do restaurante do Clube A Hebraica. O nome vem da forma como era feito e assado, como afirma Rita, que aprendeu a receita da iguaria quando morou, por oito anos, entre São Francisco, na Califórnia, e Austin, no Texas, nas décadas de 1980 e 1990. Doce preferido da criançada nas festas de aniversário, era, muito antigamente, assado em xícaras. Também vinha da xícara de chá a medida dos ingredientes usados na receita.

 

“É conhecida como ‘receita 1,2,3, 4 cake’. Uma xícara de manteiga derretida, duas xícaras de açúcar, três xícaras de farinha de trigo e quatro ovos”, afirma Rita. Segundo Francisco Rebelo, coordenador do curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, essa praticidade de fazer o cupcake tem tudo a ver com o estilo de vida do brasileiro, assim como o visual atraente. “É por isso que a moda pegou tão forte por aqui.” Para ele, a receita do sucesso da Magnolia Bakery mora no fato de o negócio ter reunido alguns dos principais doces americanos, ou seja, o cupcake, os bolos e as tortas, em um ambiente que remete às tradições do país. O visual retrô das lojas ajuda muito a fazer essa conexão direta com comida da casa da avó.

 

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