A convicção está se formando em todos os ramos de atividade. Não há mais como negar o inevitável: a pandemia do coronavírus está obrigando empresas daqui e do mundo a remodelarem seus modelos de negócio, cadeias de produção, métodos operacionais, formas de relacionamento com o cliente. Em suma, será tudo diferente. E não por um período curto de tempo. Serão transformações estruturais, para além das temporadas de isolamento e quarentena. A China vai se comportar diferente. Os EUA, idem. E quem quiser garantir seu naco de resultados nas fronteiras da concorrência, interna e externa, terá de rever conceitos. Entre os impactos mais óbvios, um deles está na garantia de insumos. No mercado norte-americano, um levantamento revelou que 75% das empresas vêm tendo problemas de fornecimento. Cerca de 44% delas não apresentavam nenhum plano alternativo e 62% relatavam atrasos de entrega. O que essa realidade de hoje vai se refletir lá na frente no modus operandi de cada companhia é claro. A interdependência, via globalização, será revista. Cada vez mais as corporações, nos novos tempos, irão precisar de suporte do Estado. E não apenas através de linhas de crédito auxiliares. Será preciso disseminar novas políticas de desenvolvimento estruturais, nas quais o avanço do protecionismo venha a ser considerado. No Brasil, o governo promete, de saída, amenizar o impacto da pandemia na atividade econômica com uma série de providências cujo potencial de liquidez sinaliza para uma liberação de até R$ 1,2 trilhão em recursos. O problema é que a logística tem sido complexa e o planejamento lento. Empresas já estão fechando as portas em ritmo anormal. Ao menos no universo das micros, pequenas e médias, as chances de sobrevivência diminuíram pela metade. Os números de pedidos de recuperação judicial ou de simples falência triplicaram e a tendência deverá seguir, não apenas por meses, mas por anos. Quem sobreviver verá uma outra realidade pela frente com técnicas distintas e postura de atuação mercadológica remodelada. O tombo recessivo que se segue – já foi apontado por organismos multilaterais, como o próprio FMI – será em uma escala imensurável. Analistas avaliam que a recuperação plena da trombada poderá levar até uma década. Mais uma década perdida, no caso brasileiro. No limite do desespero, autoridades financeiras daqui pensam até na possibilidade de “fabricar” dinheiro. Ou seja: gerar recursos sem lastro para financiar a recuperação. O custo da tática arriscada pode ser o de uma perda de valor da moeda ainda mais acentuada. O fluxo de renda se dará de maneira inflacionária. É um cenário de hecatombe e medidas extremas como essas só entraram no cardápio de discussões pelo tamanho da confusão que se tem adiante. Nesse contexto, as empresas aparecem como grandes prejudicadas em seus planos de desenvolvimento. Pela garantia do PIB e da capacidade produtiva do parque nacional, seria bom que as autoridades agissem logo. A salvação empresarial depende disso.