Em tempos de confinamento, em que as lojas têm de trabalhar de portas fechadas e as pessoas devem evitar a circulação pelas ruas, o jeito é cultivar a criatividade para amenizar os prejuízos causados pela pandemia de coronavírus. Quem resistia em adotar o e-commerce agora corre para montar sua loja virtual. Muitos passaram a utilizar também o delivery como forma de atender ao cliente. Outra saída para os empresários tem sido o drive-thru, populares nas redes de fast food, como McDonald’s e Bruger King. Mesmo sem a mesma estrutura para entrada e saída dos automóveis, pequenos estabelecimentos estão improvisando para levar o produto até o cliente, dentro do carro. “Estamos com cabeça de startup, sem barreiras no nosso pensamento e criando soluções rápidas para garantir as vendas”, afirma o CEO da Cacau Show, Alexandre Costa, que tem incentivado a adoção de drive-thru para seus cerca de 2,2 mil franqueados – dos quais apenas 10% segue de portas abertas. “Para nós, o momento de vender é agora. As duas semanas que antecedem a Páscoa respondem por 25% das nossas vendas anuais.”

Além do novo canal de vendas, o empresário garante que está buscando alternativas, como descontos agressivos, delivery e venda porta a porta. “Antes da crise, já estávamos estudando trabalhar com vendedoras domiciliares. Esse é o momento para colocar em prática”. O que é bom para a rede com faturamento de R$ 3,5 bilhões, é uma questão de sobrevivência para os franqueados. O empresário Miguel Monzu é um dos franqueados da Cacau Show que improvisou um drive-thru em sua loja no centro comercial Open Mall The Square, em Cotia, na Grande São Paulo. “É uma forma de reduzir perdas. Sem o drive-thru, não estaria vendendo quase nada. Com ele, consigo faturar 10% do que faturaria nessa época. Ajuda a pagar os salários.”

No mesmo centro de compras, outras quatro empresas adotaram a solução. É o caso de Fernanda Castanheda, cofundadora da marca Bolo da Madre, rede com 43 lojas em cinco Estados. “O drive-thru tem uma finalidade emergencial. As vendas pararam da noite para o dia, não dava para ficarmos engessados”, afirma. Já a empresária Lilian Zaboto, proprietária da clínica de vacinas Vacin Ville, que implantou o drive-thru no dia 21 de março, assim que recebeu o lote de vacinas contra a gripe, notou que a imunização dentro do carro disparou. “É uma forma de vacinar os idosos com segurança e isso ajuda a manter nosso movimento normal”, destaca.

O CEO da rede Espetto Carioca, Leandro Souza, orientou seus franqueados para que criassem alternativas urgentes para levar os produtos até o consumidor. Segundo ele, de suas 32 unidades, que só atendiam presencialmente, seis operam delivery e logo outras 15 lojas começarão a fazer o mesmo. Uma delas, em Copacabana, aproveitou a redução do trânsito para improvisar um drive-thru na rua mesmo. “Nossas lojas não foram concebidas para isso, os espaços não permitem. Mas sem trânsito, foi possível implantar nessa unidade”, diz.

CRIATIVIDADE José Carlos Semenzato, CEO da SMZTO Holding, detentora de marcas como Oakberry, Instituto Embelleze, Espaçolaser, entende que o momento exige criatividade e flexibilidade na busca por alternativas que levem o cliente a perder o medo de comprar. “Esse é o caminho. Em uma de nossas franquias demos descontos de 40% a 60% para serviços. Apesar de não ser necessidade primária, houve muita adesão em meio a essa crise. Cada um tem de procurar onde estão as oportunidades”.

O empresário também aconselha as empresas a se digitalizarem e tentarem, a todo custo, não demitir funcionários. “O governo dá espaço para parcelar tributos, bancos oferecem capital de giro, tem como renegociar com fornecedores. Faça tudo para poder honrar a folha de pagamento”, afirmoa Semenzato, que comanda um grupo com 2 mil franqueados, gera 30 mil empregos e faturou R$ 2,4 bilhões no ano passado.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Antonio Bento Moreira Leite, garante que a entidade está muito preocupada porque os franqueados, motor econômico do segmento, são na maioria micro e pequenos. “É difícil para eles sobreviverem por um período superior a 30 dias, por causa da limitação de caixa”. A entidade está negociando com o governo alternativas para levantar recursos que ajudem as empresas do setor. “As medidas tomadas nos parecem aquém da necessidade do pequeno empreendedor. O governo tem papel importante no fomento a linhas de crédito com custos compatíveis a esses empresários”.