A retomada do mercado de veículos usados em 2021 tem gerado expectativa de bons negócios para empresas ligadas ao setor. O segmento teve alta de 63% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2020, sob impacto da pandemia, segundo dados da Federação Nacional dos Revendedores de Veículos Automotivos, a Fenauto. Já a divisão de caminhões cresceu 48,9% entre janeiro e agosto em relação à igual momento do ano passado. De olho nesses números, a Belgo Bekaert — líder brasileira na transformação de arames de aço desde a sua criação — planeja investimento de R$ 100 milhões até o segundo semestre de 2022 na expansão das unidades produtoras de steel cord, cabo de aço para reforço de pneus de carros e pesados. “O consumo de pneu vem muito forte desde o último trimestre do ano passado”, afirmou à DINHEIRO Ricardo Garcia, CEO da Belgo Bekaert. “E a produção está 33%, 34% maior se comparada a 2020.”

O segmento automotivo é o principal negócio da empresa. Foi o responsável por 40% da receita do ano passado, de R$ 4 bilhões, com alta de 8,8% em relação a 2019. Já o lucro líquido alcançou R$ 523,6 milhões em 2020, 51,4% superior ao do período anterior. “Aumentar a nossa capacidade de produção de matérias-primas para pneus e investir em tecnologia são decisões que refletem o nosso posicionamento comercial de antecipação às demandas, sempre atentos às necessidades dos clientes”, disse. E os números para 2021 seguem animadores, com previsão de alta de 13% a 14% em vendas e de 50% na receita em relação ao ano passado.

A aposta de crescimento está baseada na liderança do mercado latino na produção de steel cord e na tendência de compras regionalizadas, por parte das empresas, diante de problemas logísticos gerados pela crise sanitária, como falta de contêineres e aumento do custo de transporte. A Belgo Bekaert é a única fabricante do produto na América Latina. Mundialmente, sofre a concorrência de China e Coreia do Sul. De acordo com o CEO, os investimentos e a regionalização reforçam a necessidade de a companhia ampliar a produção para dar conta não só da demanda adicional, mas do novo cenário logístico.

50% é o aumento previsto de receita da belgo bekaert em relação ao ano passado

O executivo chama a atenção para uma particularidade do segmento de pneus, normalmente muito relacionado a montadoras. Segundo ele, as fabricantes de automóveis respondem por 25% a 30% da demanda do produto no Brasil, enquanto o mercado de reposição é responsável por 70% a 75%. “As montadoras agora estão com dificuldade de produção por causa da falta de semicondutores”, disse Garcia, ao destacar que o transporte de carga, por caminhões, e o de passageiros, por ônibus, tem puxado a demanda. “Quando a economia gira e existe aquecimento, é natural que seja maior o consumo de pneu por parte de quem está repondo para o seu caminhão, para o seu ônibus ou para a sua frota.”

O pacote de investimentos da Belgo Bekaert, na verdade, atinge R$ 200 milhões. O aporte começou em 2019 com a modernização de instalações e, apesar da pandemia, o cronograma foi mantido. “Você não consegue parar um investimento que já está na metade. Estava previsto em duas fases”, disse. “Estamos executando a primeira com previsão de término no início de 2022. E a segunda é esse novo anúncio de R$ 100 milhões e pretendemos implementá-lo até o final do ano que vem.” O investimento contempla a ampliação da unidade de Itaúna, em Minas Gerais, que também produz insumos para a fábrica paulista de Sumaré — existe outra planta em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte.

MERCADO EM ALTA Segmento de pneus para reposição responde por até 75% dos negócios. (Crédito:Istock)

ENERGIA RENOVÁVEL Apesar da expectativa de bons negócios para 2022, o executivo revela preocupação com a volatilidade da economia e com uma possível crise hídrica e energética. Diante da ameaça de apagão, a companhia projeta alternativas. Vai investir em geração de energia solar para suprir 35% da demanda da unidade de Itaúna. “Será uma geração própria. Melhor ainda, energia limpa e renovável”, disse o CEO.

A Belgo Bekaert é fruto da parceria estratégica no Brasil entre a ArcelorMittal e a Bekaert. São, no total, nove fábricas no País. Além do segmento automotivo, a parceria atua principalmente no agronegócio (corresponde a 18% da receita) e construção civil (15%). Indústria petrolífera, cercamentos, solda e aplicações especiais complementam o faturamento e o portfólio de serviços. “O consumo de arames no agronegócio brasileiro deve crescer 13% este ano na comparação com 2020. E na construção civil deve ficar em torno de 9%”, afirmou Garcia. Em resumo, o crescimento pegou carona em todo o portfólio, e não somente no de insumos para veículos.