Elas chegam aos poucos, acanhadas. São crianças pobres que passam boa parte do dia nas esquinas da capital paulista, tentando arrumar ?algum trocado? para ajudar no orçamento familiar. Entram na sala, sentam-se em frente aos computadores, olham desconfiadas para o mouse ? e clicam. Como num passe de mágica, as dificuldades da vida nas ruas e os problemas de família ficam para trás. ?Gosto dos jogos e de conversar na Internet?, diz Emerson, 12 anos. Ele é uma das crianças que todos os dias utilizam os 16 computadores instalados na Estação Ciência, complexo educacional mantido pela USP no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo. O projeto chama-se Clicar, surgiu em 1996, foi idealizado pela própria USP e adotado pela Petrobras no ano seguinte. As máquinas foram doadas pela Intel e pela Microtec. A estatal envia R$ 6.500 por mês para pagar os gastos com material didático e os salários de dois educadores, um auxiliar e quatro estagiários. É pouco, muito pouco, sobretudo para aquela que é a maior empresa brasileira, dona de um faturamento de US$ 22,5 bilhões. Mas, por outro lado, mostra que a revolução do terceiro setor pode ser feita com parcos recursos.

No projeto, as crianças têm livre acesso. Ninguém cobra horário ou mesmo presença. Nem a matrícula escolar, uma exigência comum em projetos sociais. A razão para tanta liberdade é simples. A maior parte das crianças, por imposição dos pais, passa mais tempo na rua arranjando dinheiro do que fazendo qualquer outra coisa. Por conta disso, as famílias não gostam quando elas vão ao Clicar. Para os pais, o tempo gasto em frente aos computadores significa menos dinheiro em casa. Assim, não sobra tempo para diversão ou estudo. Cecília Toloza, coordenadora, explica que é comum as crianças irem ao projeto escondidas dos pais.

A cada dia, o Clicar recebe uma média de 30 jovens. A maioria, a exemplo de Emerson, passa pelo menos uma hora em frente ao computador. Os jogos são imbatíveis na preferência das crianças. E essa é exatamente a intenção dos organizadores. Isso porque os jogos escolhidos são paradidáticos, ou seja, estimulam o aprendizado de matérias como matemática e português. Com o interesse no ensino renovado, algumas crianças voltaram à escola. ?É uma vitória para nós?, afirma Cecília. Outras, tornaram-se sociáveis, mais dóceis. ?Eles aliviam as pressões do dia-a-dia escrevendo textos no computador e brincando na tela?, diz Cecília. Com um mouse na mão, os ?meninos dos sinais de trânsito? em nada se diferenciam das crianças de classe média. O próximo passo é expandir a atividade para 100 alunos e suas famílias. A idéia é fazer com que o projeto Clicar seja conhecido e incentivado pelos próprios pais dos garotos de rua. Para a expansão sair do papel, é necessário um patrocínio de R$ 8 mil mensais. Cecília explica que o dinheiro será usado para manter os funcionários e as instalações. ?Estamos em busca de parceiros?, avisa Cecília. Emerson e seus colegas agradecem.