“Nada é permanente, exceto a mudança”. A frase do filósofo grego Heráclito de Éfeso (504-456 a. C.) tem mais de 2.500 anos, mas nunca foi tão atual. No centro desse processo está o empresário inovador ou, na definição do economista austríaco Joseph Schumpeter (1893-1950), o “empreendedor”. É ele o agente das transformações que ocorrem por meio das combinações mais eficientes dos fatores de produção, fazendo com que produtos e serviços tornem-se obsoletos e sejam substituídos por outros, mais completos e eficientes. Dessa “destruição criativa” surgem diferentes métodos de produção que levam ao desenvolvimento de mercados e à redefinição da dinâmica competitiva.

Esse fenômeno ocorre com mais frequência e intensidade nos países desenvolvidos, onde um ambiente dinâmico e predisposto ao risco e à qualidade da infraestrutura estimulam a atividade empreendedora. Por outro lado, baixas taxas de escolaridade, sistemas de saúde inadequados, complexidade burocrática e interferência estatal dificultam sobremaneira o processo. Mas talvez o maior desafio para países em desenvolvimento seja alterar a percepção convencional de gestores públicos que falham em compreender no empreendedorismo um motor de transformação socioeconômica.

No Brasil, as políticas públicas direcionadas ao incentivo do empreendedorismo têm sido consistentemente limitadas, em profundidade e escopo. Além disso, ao se apropriarem indevidamente do termo “empreendedor” para, na prática, promover apoio ao auto-emprego de subsistência, os responsáveis pela formulação dessas políticas prestam enormes desserviços ao País.

Mas a incompetência de gestores públicos e nossas carências infra-estruturais não constituem barreiras intransponíveis. Isso porque a ideia que prevalece hoje é a do empreendedorismo como agente de um novo tipo de revolução: silenciosa e liderada por gente que valoriza o coletivo, possui uma visão privilegiada do mundo e, sobretudo, pensa grande; muito grande. Empreendedores revolucionários são movidos sempre por um forte sentimento de urgência.

Um dos exemplos mais extraordinários dessa rara casta de líderes no Brasil é Wellington Vitorino, 24 anos, nascido em São Gonçalo, interior fluminense de. Negro, pobre e criado numa região marcada pela violência, traçou um novo destino para si. Conseguiu formar-se em Administração de Empresas pelo IBMEC e juntou as economias acumuladas como monitor na faculdade para “realizar o sonho grande de transformar o Brasil”. Em 2015, juntou-se a dois amigos, Everson Alcântara e Lucas Leal, para fundar o Instituto Four (http://institutofour.org/), organização sem fins lucrativos que desenvolve jovens líderes para pensar em como solucionar os maiores problemas do Brasil.

O carro-chefe é o Programa ProLíder que, em 2018, na sua terceira edição, recebeu quase 6 mil inscrições. Após criterioso processo, 41 jovens foram selecionados. Nesse programa, que é gratuito e ocorre aos finais de semana, os participantes têm a oportunidade de discutir o cenário brasileiro e trocar ideias com gente como Claudia Costin, Ricardo Paes de Barros, Florian Bartunek, Carolina da Costa, Renato Mazzolla, André Steet. Depois de formados, os ProLíderes retornam para suas regiões de origem e assumem o papel de agentes de transformação em suas próprias comunidades. Hoje já são quase 100 deles, e Wellington tem pressa: “O Brasil é um país pobre e está se tornando também velho. Essa é uma combinação perversa e precisamos agir agora”. Esse é seu sonho grande.