Existe no Brasil uma empresa de capital 100% nacional que provoca inveja nas concorrentes multinacionais. Mais do isso, as rivais estrangeiras tiveram de virar suas clientes para ter acesso a uma nova tecnologia desenvolvida por ela. A companhia verde-amarela é a VR, uma das competidoras mais tradicionais no mercado de tíquetes para refeição e alimentação, usados para pagamentos em restaurantes e supermercados. As concorrentes em questão são as francesas Accor e SodexhoPass, que decidiram disputar o mercado de vales-refeição usando uma sacada tecnológica criada pela VR. O nome é simples: posto de benefício. O equipamento também: uma máquina pouco maior que uma calculadora que serve para o reabastecimento de cartões de refeição e transporte. Mas ela vem causando uma revolução no setor. ?Não há nada semelhante no mundo, e a adesão dos concorrentes ao sistema mostra o sucesso da invenção?, comemora Cláudio Szajman, presidente do Grupo VR. O professor pardal, no caso, é a SmartNet, empresa de tecnologia da VR. Nos postos criados por ela, além de carregar os cartões com ?moedas eletrônicas?, os funcionários podem solicitar empréstimos consignados à folha de pagamento. Trata-se de um trunfo potencialmente decisivo na disputa por espaço no mercado de benefícios, que movimenta R$ 9 bilhões ao ano, atende 10 milhões de trabalhadores e tem fôlego para dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, de acordo com a Assert, entidade que reúne as empresas do setor.

Nos últimos dois anos, a maior preocupação das empresas do setor era desenvolver uma tecnologia capaz de eliminar os tíquetes de papel. O desafio era criar um sistema que não precisasse de ligação telefônica ? como no caso do cartão com tarja magnética dos bancos, que exige acesso à internet ? para não congestionar os horários de almoço. E foi precisamente isso que a VR criou. ?O nosso sistema é rápido, o que dá comodidade tanto para o dono do estabelecimento quanto para o usuário do cartão?, diz Szajman. A primeira a comprar a tecnologia da VR foi a SodexhoPass. Depois de mais de seis meses de estudos para a escolha de um sistema, a companhia francesa optou pelo da SmartNet. ?Hoje, a VR tem a melhor solução para esse tipo de cartão?, atesta o concorrente Elias Tadeu Simão, vice-presidente para a América Latina da SodexhoPass. A Accor, outra estrangeira no setor, já começou a desenvolver um projeto piloto com a SmartNet para aderir ao posto de benefício. A única a não adotar a tecnologia da VR é a Visa Vale, empresa resultado da união entre Visa, Banco do Brasil, Bradesco e ABN Amro, que chegou ao setor há um ano já com a maior rede de estabelecimentos credenciados. ?Desenvolvemos nossa própria solução para cartões com chip. O sistema da VR não é nada prático para o funcionário?, alfineta Newton Neiva, presidente da companhia. Na tecnologia desenvolvida pela Visa Vale, o crédito é inserido no cartão do funcionário sem que ele tenha de ir a um posto de benefício. Em compensação, os primeiros pagamentos feitos com o plástico dependem de acesso à internet.

Antes de colocar o posto de benefício no mercado, o Grupo VR testou o produto com seus funcionários. Esta prática é repetida a cada inovação há 27 anos, desde a fundação da companhia pelo pai do atual presidente, Abram Szajman ? empresário mais conhecido por presidir há 21 anos a Federação do Comércio de São Paulo. A VR começou com três funcionários em um escritório na Avenida Paulista. No começo, a empresa ? como seu nome sugere ? só fornecia vale-refeição. Aos poucos, entrou nos ramos de tíquetes para alimentação, combustível e transporte, até virar a Szajman Holding. Hoje, a VR ocupa um prédio de três andares na Zona Sul de São Paulo e tem 800 funcionários. Além da empresa de benefícios, o grupo tem outros três braços: o Banco VR, que administra hoje R$ 44 milhões em crédito consignado à folha de pagamento; a SmartNet, que vende tecnologia para todo o mercado, e a gravadora Trama, comandada por André Szajman, irmão mais novo de Cláudio. No começo de 2001, Abram recolheu-se ao conselho da holding e entregou ao filho mais velho a liderança da VR. Hoje, o grupo tem 20 mil empresas clientes e atende 200 mil estabelecimentos em todo o País. A meta agora é ampliar a base de cartões com chip. Atualmente, são 200 mil. Em abril de 2005, se tudo correr bem, serão 1,1 milhão.

 

R$ 3,2 bilhões é o faturamento do Grupo VR, que conta com um banco e até uma gravadora

20 mil é o número de empresas clientes da área de cartões de benefícios da VR

200 mil é o total de estabelecimentos atendidos pela VR em todo o País

2 milhões é o número de usuários de vales-refeição e transporte da VR