Os maiores bancos do País divulgaram na semana passada uma nova safra de lucros bilionários, mais de 20% superiores aos apresentados ao fim do primeiro semestre de 2003. Coisa de R$ 1,15 bilhão no caso do Bradesco ou R$ 1,8 bilhão no do Itaú, dando seqüência ao festival de ganhos recordes que se renova a cada seis meses. Rotina, em suma, salvo por um detalhe determinante. Com o corte dos juros no último ano, a rentabilidade das instituições passou a ser garantida por um elemento que há muito andava esquecido no mundo das finanças: o crédito. Uma espiada no relatório do ABN Amro Real revela aumento de 14,7% na carteira de empréstimos ao varejo. Os gigantes Bradesco e Itaú registram crescimento de 10% e 9%, respectivamente, em suas operações de financiamento. O estoque total de crédito concedido por instituições financeiras chegou a R$ 442,4 bilhões em junho, revelando avanço de 16% em um ano. Esta é a boa notícia: os bancos voltaram a emprestar. A má é que eles continuam oferecendo um dinheiro caro, ?inflacionado? por juros e spreads proibitivos.

Um desconto de duplicata não custa menos que 2,3% ao mês e hot money para uma empresa de primeira linha sai por 2,75% mensais. O spread geral da economia (diferença entre o CDB e a taxa paga pelo tomador de empréstimo) mantém-se em impressionantes 37,6% ao ano. ?Seja pelos depósitos compulsórios exigidos pelo Banco Central ou pelos custos administrativos dos bancos, o custo do dinheiro ainda é elevado e tem muito espaço para cair?, observa Marcelo Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. Mesmo assim, o crédito no sistema financeiro ensaia uma expansão só vista nas largadas dos planos Cruzado e Real. O dinheiro sem dúvida continua caro, mas existem novas maneiras de pôr as mãos nele, como o financiamento a juros prefixados para compra de máquinas ou o cartão de crédito com desconto em folha de pagamentos. Há inclusive promoções, como a do Santander, que criou um pacote de produtos de crédito para o Dia dos Pais, com desconto de 10% na taxa de juros para renovação de empréstimos.

?Os resultados dos bancos neste semestre derrubam dois mitos?, acredita Joaquim Elói de Toledo, professor de economia da USP. O primeiro, criado nos anos de inflação crônica, é o de que os bancos nacionais, viciados na ciranda financeira,
não sobreviveriam em um ambiente de inflação e juros civilizados. O outro, mais recente, sustenta que as instituições brasileiras resistem à idéia de dar crédito ao setor privado. ?O assédio aos pedestres na porta das financeiras prova o contrário. O que faltava era demanda e não oferta de crédito?, avalia o economista. De fato, a corrida em busca de financiamento ganhou vigor em maio e junho, quando ficou mais claro o reaquecimento da economia. ?Quase 90% do aumento na nossa carteira de crédito veio nesses meses?, atesta Décio Tenerello, vice-presidente do Bradesco. Com a sensação de que a estagnação econômica ficou para trás, explodiu a procura de financiamento para a compra de automóveis, eletrodomésticos e mesmo imóveis. ?Some o aumento da atividade industrial, a maior confiança do consumidor e o crescimento da renda e do consumo e você tem a explicação para a maior demanda por crédito?, resume Sílvio Carvalho, diretor-executivo do Itaú. ?E, ao que tudo indica, ela veio para ficar.?

 

MAIS LUCRO, MAIS CRÉDITO
Resultado no primeiro semestre comparado a igual período de 2003

Banco Bradesco

Total

Variação

Lucro líquido

R$ 1,25 bilhão

21,71%

Operações de crédito

R$ 58,4 bilhões

10,09%

Banco Itaú  

Lucro líquido

R$ 1,82 bilhão

22,4%

Operações de crédito

R$ 48,7 bilhões

9,3%