Muita gente já ouviu críticas em relação ao chamado ?sistema S?. Para quem não conhece, são aquelas contribuições compulsórias, descontadas na folha de pagamento, que financiam entidades como o Senac e o Senai e cuja finalidade é qualificar trabalhadores para o comércio e a indústria. No caso do Senac, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, criado em 1946, essas críticas tendem a ser cada vez mais raras. O motivo é simples. Hoje, metade do orçamento anual do Senac, de R$ 340 milhões, já vem de recursos próprios. A explicação para isso é o fato de a entidade ter apostado alto em programas de educação superior. São cursos pagos, que ajudam o Senac a se tornar auto-suficiente. O negócio deu tão certo que a entidade anunciou um projeto ambicioso, que consumiu investimentos de
R$ 30 milhões em São Paulo. Trata-se do Complexo Educacional Abram Szajman ? Campus Senac, que será inaugurado em julho. O projeto prevê 120 mil metros quadrados de área, com 226 salas de aula e previsão de atendimento de 14 mil alunos em 2010. ?Oferecemos cursos exclusivos para pessoas que não são atendidas nem pelas universidades públicas nem pelas particulares?, conta Abram Szajman, presidente do Senac e idealizador do projeto. Enquanto nos programas de qualificação o Senac treina vendedores, balconistas e caixa-tesoureiros, nas universidades os cursos giram em torno de informática, línguas estrangeiras, educação ambiental, fotografia, moda e design.

Com esses novos programas, o Senac transformou-se em uma potência do ensino. Só as unidades de São Paulo beneficiaram diretamente cerca de 500 mil alunos, divididos em 2 mil cursos. Nos programas de graduação e pós-graduação, 6,3 mil formaram-se em 2002. ?Fomos dos cursos da máquina de escrever à pós-graduação?, resume Szajman, que há 18 anos preside a Federação do Comércio de São Paulo.

A evolução do Senac pode ser sentida também a partir de uma análise de suas contas. Se há 20 anos era deficitário e dependia quase que totalmente da contribuição compulsória (1% da folha de pagamento de empresas ligadas ao setor terciário), hoje ela representa 50% da arrecadação total. A outra metade é oriunda de sua receita própria. A reviravolta aconteceu a partir do momento em que o Senac passou a cobrar mensalidades em seus cursos de graduação e pós-graduação. ?Mesmo que não tivéssemos a ajuda das empresas, conseguiríamos fechar a conta no final do mês fazendo alguns ajustes?, avalia Luiz Salgado, diretor-regional do Senac paulista. Se não bastasse, o Senac ainda possui uma editora de livros que publica cerca de 10 títulos por mês e um canal de televisão. ?Sinto necessidade de retribuir o sucesso que tive na vida profissional?, conta Szajman, dono do grupo VR, a principal empresa de vales-refeição do País.