Esta reportagem foi concluída antes da partida entre o Flamento e o time argentino Vélez, que definiria quem terminará em primeiro lugar na chave da Libertadores. Em si, o jogo não muda muita coisa. Os flamenguistas já devem ter comemorado a classificação antecipada para as oitavas de final do torneio. E se comemoraram tomando uma cervejinha, é grande a probabilidade de que a despesa da celebração tenha sido paga com a conta digital do BRB, voltada especialmente para os torcedores do rubro negro.

Lançada em meados do ano passado, a conta digital Nação BRB Fla já tem 730 mil clientes. Para comparar, até esse lançamento, o banco estatal criado no anos 1960 como Banco Regional de Brasília tinha 400 mil correntistas. “Fizemos um acordo com o Flamengo que prevê não só o lançamento da conta, mas também a oferta dos demais serviços financeiros”, disse o presidente do banco, Paulo Henrique Costa. “É uma referência em digitalização, estamos abrindo 11 mil contas por dia.”

A conta digital é a face mais visível de um processo de modernização do BRB iniciado em 2019. Como toda instituição financeira estatal, ele penava com as amarras do serviço público e sofria com a desconfiança em relação ao controlador. Instituições financeiras estaduais sempre tiveram relações tensas com os governadores, e o da capital federal não foi exceção. Ainda no início deste ano, um ex-diretor foi condenado por desvio de recursos, em um caso que começou a ser investigado pelo Ministério Público do Distrito Federal ainda em 2007, antes de Costa chegar ao comando.

Executivo e carreira da Caixa e com larga experiência no varejo, suas primeiras medidas ao assumir o cargo foram melhorar a governança e reestruturar os processos da instituição. Não havia grandes crises, mas a situação não era positiva. “A carteira de crédito não tinha crescido desde 2014 e, pior do que isso, o BRB tinha perdido o protagonismo que um banco público deve ter”, disse ele. “Queremos que a conta do BRB, que muitos servidores possuem, se transforme no principal relacionamento bancário da família.”

A melhoria de processos levou a uma redução da inadimplência. Em alguns casos, como na carteira comercial, o início da pandemia custou caro. No fim do primeiro trimestre de 2020, o total de empréstimos problemáticos para as empresas era de 7,46%. Doze meses depois, esse porcentual havia caído para 1,35%. Mesmo durante a pandemia, na base de clientes do BRB, com grande peso de servidores públicos, permaneceu estável ao redor de 1,5%.

Ao lado de produtos populares como os empréstimos consignados para os servidores públicos do Distrito Federal, o banco tinha uma tradição em financiamentos imobiliários, que vinha sendo pouco explorada. A ordem foi pisar no acelerador. A carteira de crédito habitacional subiu para R$ 2,89 bilhões no fim do primeiro trimestre deste ano, alta de 143,5% ante o mesmo período de 2020. “Ocupamos o sexto lugar nos financiamentos imobiliários brasileiros”, disse Costa. O total da carteira de empréstimos era de R$ 17,23 bilhões em março, crescimento de 42,7% ante 2020. O avanço obtido é o dobro da média nacional.

PAPEL SOCIAL Como todo banco público, o BRB também tem uma função social, e opera os oito programas sociais do governo do Distrito Federal, que atendem 218 mil famílias. As iniciativas vão desde transferência de renda até a doação de 1,6 milhão de máscaras e a construção de um hospital modular para atender às vítimas da pandemia. Aí também entrou a tecnologia. Em vez de distribuir cestas básicas, o governo passou a entregar dinheiro para os beneficiados. Com isso, o prazo de cadastramento e entrega da primeira cesta recuou de três meses para seis dias e o custo desabou. “A logística custava R$ 57 por cesta, agora recuou para os R$ 6 que é quanto custa a emissão de um cartão.”

O mercado reconheceu as mudanças. O BRB é listado na B3 e, desde o fim de 2020, suas ações já se valorizaram 133%, ante alta de 4,2% do Ibovespa. Essa alta não é muito representativa. Os papéis quase não têm liquidez, pois o free-float, o porcentual em poder dos minoritários, é de apenas 3%. Por isso, nos planos de Costa está a venda de ações para investidores institucionais e a migração dos papéis para o Novo Mercado. Algo que pode ser considerado um gol de placa.