Em terra de alta fertilidade, quem planta bem, se dá melhor ainda. Os brasileiros, no geral, e os produtores, em particular, têm vivenciado essa tese na prática. Seguindo essa cartilha, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio nacional vem crescendo e se tornando referência para o mundo. Em 2018, o Valor Bruto da Produção (VBP), termômetro para a soma de tudo o que é produzido nas lavouras, somou R$ 589,6 bilhões. Em 2019, a previsão do Ministério da Agricultura é ainda mais otimista, para R$ 600,9 bilhões — o que seria o segundo maior volume da série histórica, atrás apenas de 2017, quando o VBP foi de R$ 601,8 bilhões.

Nesse montante vultoso e competitivo que é a produção brasileira, as cooperativas agrícolas têm um importante papel. Elas veem crescendo e, cada vez mais, essa união de esforços tem se tornado fundamental para que os produtores possam ter acesso a crédito, tecnologia e assistência técnica rural de ponta. Entre 2010 e 2018, foram criadas 65 novas cooperativas de produção agropecuária, totalizando 1.613, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em 2018, houve uma queda de 16,5% no faturamento, mas, mesmo assim, o valor movimentado por essas empresas não deixa a desejar: R$ 167,2 bilhões.

Quando se fala de cooperativa agrícola, é impossível não lembrar da paranaense Coamo. Com 49 anos de existência, a empresa sobreviveu a inúmeras crises econômicas pelas quais o País atravessou e vem mostrando como uma boa gestão aliada à boa eficiência administrativa fazem a diferença no campo. Em 2018, a cooperativa de Campo Mourão elevou o seu faturamento em 35,2%, saindo de R$ 10,5 bilhões para R$ 14,2 bilhões. As sobras, o equivalente ao lucro distribuído no jargão das cooperativas, foram da ordem de R$ 358,3 milhões — 11,7% maior do que em 2017, para mais de 28,6 mil associados. Pelo bom desempenho, a Coamo é a campeã entre as cooperativas no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2019. “O segredo é ter uma empresa bem capitalizada. Isso não é uma coisa que se faz de uma hora para a outra. Mesmo com todos os problemas do Brasil, nunca tivemos uma crise”, afirma o engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo.

José Aroldo Galassini / Empresa: COAMO Agroindustrial / Cargo: presidente / Principal realização da gestão: Manter a empresa capitalizada para elevar o faturamento em 35,2%, saindo de R$ 10,5 bilhões para R$ 14,2 bilhões, em um ano no qual o setor de cooperativas agrícolas teve uma retração de 16,5% (Crédito:Divulgação)

A cooperativa é a maior da América Latina, com 117 unidades, em 71 municípios, que, além do Paraná, estão espalhadas por Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Para colher bons frutos, a Coamo vem investindo pesado. Em 2018, foram R$ 671,4 milhões, divididos entre a construção de uma unidade de processamento de soja e uma refinaria de óleo e um entreposto em Dourados, em Mato Grosso do Sul. “Quando se faz um bom trabalho de gestão, cria-se confiança. Nós sempre tivemos capital de giro para atender as necessidades dos cooperados”, diz Gallassini.

O engenheiro agrônomo sabe o que diz. Fundada em 28 de novembro de 1970, a Coamo é presidida por Gallassini desde 1975. A visão, e, sobretudo, a experiência, fizeram a empresa sólida financeiramente. No ano passado, os cooperados entregaram 7,2 milhões de produtos agrícolas, 5,2% menor do que em 2017. No entanto, o câmbio favorável e a alta nos preços das commodities proporcionaram vendas de R$ 7,3 bilhões (aumento de 55,3%), entre soja, milho, algodão trigo e café. Foram gerados US$ 1,8 bilhão com a exportação de 4,5 mil toneladas (18,4% maior) em 2018, ante 3,8 mil toneladas exportadas e arrecadação de US$ 1,2 bilhão no ano anterior. “O preço no ano passado foi muito melhor do que esse ano”, diz Gallassini.

Para chegar a esse nível de produção e venda a 17 países dos continentes europeu, americano e asiático, a cooperativa paranaense conta com uma estrutura robusta. Atualmente, são duas unidades de processamento de soja para a produção de 5 mil toneladas por dia; uma refinaria de óleo, com capacidade para fazer até 600 toneladas por dia; uma fábrica de gordura hidrogenada, para produzir até 100 toneladas dia; uma indústria de margarina, com capacidade para ter até 180 toneladas por dia; uma unidade de torrefação e moagem de café, preparada para fazer até 15 toneladas por dia; e um moinho de trigo, com capacidade de 200 toneladas por dia.

Em agosto, a Coamo finalizou a construção de uma indústria de processamento de soja e refinaria de óleo, em Dourados (MS). Com isso, a capacidade de processamento de soja diária passa de 5 mil para 8 mil toneladas ao dia, e capacidade de refino de óleo de 660 toneladas para 1,3 mil toneladas de óleo por dia. A nova unidade deve entrar em operação até o final do ano. “A indústria fortalece a nossa operação. É sempre uma alternativa para a comercialização dos nossos produtos, como o óleo, o farelo, a gordura e a margarina”, diz Gallassini.

Para esse ano, a empresa tem algumas incertezas por conta de problemas climáticos nas safras de soja e milho, e com relação aos preços internacionais para o mercado de grãos. “Quando o cooperado está capitalizado, ele pode achar que vale a pena esperar para vender o produto em um momento melhor”, afirma o presidente da Coamo.