A Frigol acabou de lançar seu primeiro relatório de sustentabilidade. Poderia ser apenas uma prestação de contas a uma sociedade ávida por cadeias produtivas mais responsáveis. Mas é um marco para a companhia. Fundada em 1970, em Lençóis Paulista (SP), a empresa é uma das principais indústrias frigoríficas do País, porém, até outubro de 2019 estava em recuperação judicial. Foi um longo processo, desde 2010, para lapidar toda a estrutura operacional, de capitais e governança, aprimorar a gestão de custos e garantir o sucesso do plano de saneamento. E manter preservada a imagem institucional. Deu resultado.

No ano passado, o faturamento ficou acima dos R$ 3,1 bilhões e superou em 29% o de 2020 (R$ 2,4 bilhões). Com operações em São Paulo e Pará, a Frigol processou mais de 181 mil toneladas de carne bovina e em torno de 8,7 mil toneladas de suína. As exportações, para mais de 60 países da América do Sul, Europa, Oriente Médio, Ásia e África, renderam R$ 1,2 bilhão. O diagnóstico da saúde financeira da companhia ainda mostra o Ebtida em R$ 125 milhões, o lucro líquido em R$ 40 milhões e a alavancagem em 1,3 vez. Foi nesse cenário que, em dezembro de 2021, Eduardo Miron assumiu o cargo de CEO
da empresa. “Esperamos continuar crescendo e faturar R$ 4 bilhões este ano, com Ebtida próximo a R$ 200 milhões”, disse à DINHEIRO.

Justiça seja feita. Miron teve participação direta nessa restruturação. Após uma década como executivo da Marfrig, onde foi CEO global, em novembro de 2020 o executivo virou conselheiro independente da Frigol. “Desde a minha saída [da Marfrig] tinha o objetivo de outra função executiva. Fui chamado para fazer parte desse conselho e participei dos comitês de risco e de estratégia.” Nesse período, o executivo contribuiu para o processo de profissionalização e transparência de gestão. Agora, uma de suas missões é ganhar mercado, seja pela diversificação de produtos e de canais de vendas, seja pelo avanço geográfico dentro e fora do País.

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EXPANSÃO Este ano todas as plantas industriais da Frigol receberam a certificação internacional de segurança alimentar BRCGS Food, reconhecida pela Global Food Safety Iniative (GFSI). É um combustível a mais no caminho da habilitação para outros países, como alguns da Ásia e os Estados Unidos. Segundo Miron, a empresa já fez sua parte para entrar no território norte-americano. “Agora dependemos de um processo interno deles”, disse. Essa liberação é uma negociação coletiva, via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Não há como falar em mercado internacional sem considerar a guerra entre Rússia e Ucrânia, que caminha para o segundo mês. Mas na opinião de Miron, do ponto de vista de negócios, o impacto direto nas operações da Frigol é baixíssimo. “Nossas vendas para Ucrânia são spots e estávamos em processo de recuperar a habilitação para a Rússia”, afirmou. Bem mais arriscada é a dependência das exportações para a China. O gigante asiático é o destino de 80% dos embarques da Frigol para fora do País.

Também por esse motivo a empresa não descuida do mercado interno. E as pretensões são elevadas, já que o objetivo é aumentar a popularidade das marcas nos grandes centros, pois, segundo o CEO da Frigol, elas são mais conhecidas no interior. “Queremos multiplicar os canais de distribuição, entrar mais nos pequenos e médios varejos e na área de food service.”

Apertar o passo desse crescimento depende de garantir que o fornecimento de matéria-prima esteja na mesma frequência. E aí entra outro fator primordial na equação, que é a evolução tecnológica. A empresa é a primeira indústria frigorífica, por exemplo, a trabalhar com inteligência artificial para avaliação de carcaças, e os pecuaristas acessam essas informações no próprio celular.

Se nas unidades industriais investe-se em tecnologia para ganhar velocidade, precisão e padronização, na outra ponta da cadeia há um esforço para atender e surpreender os consumidores. Daí o desenvolvimento de novas embalagens, porções menores, produtos prontos e semiprontos. Foi por causa dos novos hábitos de consumo que a Frigol seguiu os passos das líderes do setor de proteína animal e investiu em alimentos plant based, lançando a linha Veg Vibe, com quibe, almôndegas e duas versões de hambúrgueres fabricados exclusivamente à base de vegetais.

Miron diz que a ideia é oferecer alimentos com pouco processamento e qualidade gourmet. Ainda é uma fase inicial, de teste de mercado, mas com base em outras experiências, é possível pensar para o futuro em uma representatividade de 5% a 10% dos negócios da companhia, o que já seria bem considerável. Depois da dieta da recuperação judicial, a Frigol mostra seu apetite.