Agora está definitivamente sacramentada dentro do governo a ideia de “vender vento” e de tentar impor uma narrativa própria sobre o desempenho da economia. A ordem partiu diretamente do Planalto e o objetivo ficou claro: não macular as articulações do presidente e a sua imagem em plena campanha pela reeleição. O sinal nesse sentido foi dado logo após a divulgação dos últimos números negativos referentes ao PIB do terceiro trimestre, que estacionou em 0,1%, caracterizando o quadro de “recessão técnica”. A seguir à constatação, que empurrou o País para uma onda de pessimismo ainda maior, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, como que tentando fazer do limão uma limonada, veio a público para dizer que “o País está decolando”. Soou anacrônica a fala, mas ele buscava assim adotar um exercício tortuoso de retórica que compensasse o estrago. No dia seguinte retificou, admitindo que o Brasil passará por apertos monetários em 2022. Mas a determinação continua em vigor: os técnicos e o staff burocrático de Estado tentarão minimizar as más notícias, impingindo uma coloração toda própria nas análises para os interlocutores. Os economistas de mercado são unânimes em apontar que não acreditam mais nessas versões. Já precificaram a paralisia prolongada como um evento inevitável e estão refazendo seus cálculos — sempre para baixo — sobre os números da produção. Eles avaliam que o PIB está no chão e de lá não sairá enquanto algumas condicionantes, como as reformas estruturais e o ajuste fiscal de caixa do governo, não forem confirmadas. A depender dessas variáveis, o País irá realmente esperar um bom tempo. Não existe qualquer mobilização, especialmente do Planalto, no sentido de aprovar pautas impopulares e as reformas, dentre elas, tanto a tributária como a administrativa, encontram muitas resistências. O saneamento das contas, por sua vez, mostra-se impossível diante do fato de que o mandatário almeja usar mais recursos para gastar em ações vistosas no ano eleitoral. Nessa equação reside a justificativa para o clima negativo e de descrença que tomou conta de forma generalizada. Convivas do poder argumentam que o governo não irá conseguir convencer o público apenas dourando a pílula com falácias quanto à má fase enfrentada. Internamente, na equipe que trata do marketing político do capitão, e mesmo entre os aliados do Centrão, bateu um certo desespero. Os índices da fome, do avanço da miséria e do custo de vida serão, no entender dessa turma, decisivos na escolha do futuro presidente — e Bolsonaro perde no quesito por não oferecer saídas para a superação do problema. Mesmo o Auxílio Brasil turbinado, na casa dos R$ 400 — a custa de um calote dos precatórios e do furo no teto de gastos —, é tido como insuficiente para dar cabo da missão. O Banco Central, por sua vez, se eximiu de culpa pelo baixo crescimento do PIB, apontando que os indicadores definham devido à crise fiscal e a ausência de outras medidas estruturantes macroeconômicas. Ele vem apertando a política monetária de forma acelerada para conter o descontrole da inflação e, nessa toada, acabará por agravar ainda mais o quadro de penúria dos mais carentes. Não terá narrativa oficial que cole diante da difícil realidade.

Carlos José Marques Diretor editorial