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Bastou um fato ? a subida nas pesquisas de José Serra, candidato do governo à Presidência ? para que mudasse da água para o vinho o humor do mercado brasileiro. Os fundamentos econômicos do País não se alteraram. Continuam onde estavam, dando sinais de solidez medidas no chão das fábricas e nos novos projetos de investimento produtivo. Mas havia na semana passada um otimismo adicional, novo. Empresários, banqueiros e demais personagens do mundo dos negócios respiravam aliviados. ?A pesquisa mostra que Serra voltou a ter chances?, festejou Herman Wever, ex-presidente da Siemens do Brasil. ?Sem dúvida ele é muito bem preparado e todos esperavam que ele se recuperasse.? Para explicar essa reanimação dos humores, um segundo motivo é tão importante quanto o primeiro. Ciro Gomes, do PPS, parece perder fôlego na mesma medida em que o tucano alça seu vôo. ?Com Ciro o futuro é incerto?, diz o pecuarista Luiz Hafers, eleitor declarado do candidato governista. ?A recuperação de Serra combinada com a queda de Ciro é um alívio.? Essa mesma sensação era exibida em outros setores da economia. ?A melhor notícia é o recuo de Ciro?, diz o presidente no Brasil de um dos maiores bancos do mundo. ?O candidato do mercado é Serra. Ciro é truculento?, diz o gestor de um fundo de investimentos nacional.

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Garantia: Armínio Fraga continua à frente do Banco Central

Para coroar a novidade, alguns dos principais indicadores financeiros emitiram sinais tranqüilizadores. Na quinta-feira 29, um dia após a divulgação das pesquisas, o governo conseguiu rolar US$ 1,6 bilhão em dívidas que venceriam na segunda-feira 2. Isso baixou a adrenalina nas mesas de operação do mercado financeiro e favoreceu os indicadores. O dólar quase baixou a barreira dos R$ 3,00 e, na semana, a Bolsa de Valores de São Paulo teve alta de 8%.
Até o famigerado risco-país, medido pelo JP Morgan, apresentou
uma boa notícia: desceu de 2.000 para 1.665 pontos. É possível
que isso tudo se reverta em um par de dias, uma vez que o mercado costuma digerir boas notícias em questão de horas e leva semanas para desintoxicar-se das coisas ruins, mas o fato é inegável: Serra deu uma ducha fria na crise. Como as notícias boas também chegam em manada, o porta-voz do FMI, Thomas Dawson, afirmou que o acordo de US$ 30 bilhões com o Brasil será ratificado nos próximos dias. ?A expectativa é de aprovação na sexta-feira 6 de setembro?, avisou em Washington. Logo que soube da virada nas pesquisas, Serra recebeu DINHEIRO para uma entrevista e antecipou uma notícia que o mercado financeiro esperava com ansiedade e, certamente, receberá com champanhe.

?No meu governo, o presidente do Banco Central será Armínio Fraga?, garantiu o candidato. Posto assim, diz Pedro Thomazoni, do Lloyds TSB em São Paulo, é inevitável que o crescimento de Serra tenha forte impacto no mercado. E a julgar pela tendência das pesquisas, Serra pode capturar o segundo posto a qualquer momento. Os números do Vox Populi, divulgados na segunda 26, foram os primeiros a registrar o impacto do horário eleitoral gratuito na televisão. Com a cara na telinha, Serra valeu-se da picardia do marqueteiro Nizan Guanaes e desferiu golpes certeiros em Ciro. O resultado é que o candidato do PPS caiu dos 32% de intenções de voto que tinha antes da inauguração do horário político para 25% depois de apenas uma semana na tevê. Serra saiu de 10% para 15% e Lula, impávido, manteve-se com 35%. No dia seguinte, o Ibope confirmou a tendência. Ciro despencou de 26% para 21% e Serra foi de 11% para 17%. Lula exibiu os mesmos 35%.

Em seu movimento de reação, Serra parece ter capturado o ouvido dos eleitores com propostas que eles querem ouvir. A mais ambiciosa, até aqui, é a criação de 8 milhões de empregos no País ao longo dos próximos quatro anos. Batizado de Projeto Segunda-feira, pode ser apenas mais uma promessa de campanha embalada em jingle de cerveja, mas colou. ?A subida do Serra não é boa só para os empresários, mas para toda a sociedade?, acredita Ivoncy Ioschpe, presidente do influente Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). ?Seu plano de governo é o
mais consistente?. E que plano é esse? Ele abarca incentivos fiscais a empresas exportadoras e, internamente, fala em reserva de mercado para as pequenas e médias. Sua meta de crescimento gira entre 4% e 4,5% ao ano. Serra, é claro, promete baixar os juros. Coordenado pelo atual prefeito de Vitória, Luiz Paulo Velloso Lucas,
o programa foi traçado por correligionários como José Roberto Mendonça de Barros e Gesner de Oliveira. Também sofreu acréscimos de economistas de peso como Pérsio Arida e André Lara Resende, da equipe criadora do Real. ?A oposição exagera a dimensão dos problemas do País?, diz Veloso Lucas. ?Sabemos que é possível executar nosso plano de crescimento econômico.? Serra tem a seu favor, ainda, um eleitor que pode fazer a diferença numa situação de impasse. O presidente Fernando Henrique pondera até mesmo tirar uma pequena licença para subir mais à vontade nos palanques de seu candidato. E, como todos sabem, o voto dele não é exatamente apenas mais um.

Marcamos um gol

Como o sr. avalia a ida de Armínio Fraga e Pedro Malan a Nova York?
A viagem foi bem-sucedida, mas leva algum tempo até os resultados aparecerem. Os bancos tomaram a decisão equivocada de reduzir sua exposição no Brasil e agora vai demorar para que o crédito retorne. Mas pelo menos as linhas de financiamento para exportação estão voltando. Para que elas retomem ao nível anterior vai demorar de quatro a cinco meses.

E como isso vai repercutir na economia?
No ano que vem teremos condições excelentes para retomar
o crescimento sustentado da economia. Há capacidade
ociosa elevada, superávit comercial, margem para baixar os
juros e os preços das commodities estão subindo. Acho que
o quadro vai ser favorável.

O acordo com o FMI não engessou o próximo governo?
Quando se faz um acordo desse tipo tem de se perguntar o que aconteceria se não houvesse acordo. Se não tivesse ocorrido o acordo, o quadro externo da economia brasileiro até o fim do ano seria muito difícil. Já não é fácil, mas seria incomparavelmente pior.
E foi um bom acordo. Não há nenhuma exigência de se ampliar o superávit fiscal. O prazo é bom, o volume é grande e as taxas de juros médias são baixas.

Seus adversários dizem que é necessária uma mudança de modelo econômico…
A idéia de mudar o modelo é apenas um subterfúgio para não discutir concretamente o que fazer. O Brasil vai viver uma etapa econômica diferente a partir do ano que vem. Vai ser um período de mais crescimento, de emprego. Mas o modelo implantado não é uma coisa acabada. Vai haver mudanças no quadro econômico.

A questão social vai ter mais espaço no seu modelo?
Nossa proposta é social à medida em que privilegia o emprego.
As políticas sociais do governo Fernando Henrique já estão
no rumo certo.

Empresários dizem que o Brasil tem de ser mais agressivo ao negociar a Alca…
Eu concordo. O Brasil precisa fazer um esforço muito intensivo de preparação para a Alca. O governo junto com a área privada.

Mas dá tempo? O País tem de apresentar propostas no dia 15 de fevereiro…
Temos até agosto para apresentar ofertas definitivas. A
Alca pode ser uma coisa muito boa, ou muito ruim. Depende da posição dos EUA. Os americanos são especialistas em erguer barreiras não-tarifárias para nossas exportações . E se eles
não tiverem disposição de removê-las, a negociação com a
Alca não vai prosperar.

A que o sr. atribui a subida nas pesquisas?
Tem a ver com o início do horário eleitoral. É quando se tem
a iniciativa de apresentar as propostas. Isso dá credibilidade.
Em todo o caso,o jogo começou há duas semanas. E marcamos
um gol. Eliminamos a tese do já perdeu mas não vamos embarcar
no já ganhou.

 

Boas notícias: dólar caiu para R$ 3,05 e Bolsa subiu 8%