Há uma preocupação corrente nos escritórios da Nokia em todo o mundo ? qual será o destino da companhia finlandesa de celulares quando a próxima onda tecnológica atingir o seu mercado? Os celulares estão deixando de ser apenas celulares para se transformarem em videogames, câmeras fotográficas e equipamentos capazes de enviar e receber dados em alto velocidade. É um grande desafio para a empresa que chegou ao topo no início da década de 90 na última revolução tecnológica do setor, quando a telefonia deixou o universo analógico e passou para o digital. Nessa época, a Motorola era a líder absoluta e perdeu a primeira colocação. A Nokia quer para si um destino melhor, mesmo que essa mudança traga o desafio de entrar em áreas desconhecidas, com concorrentes bem estabelecidos. ?A empresa que parar de investir terá morte certa. Estaremos entre os sobreviventes?, diz Fernando Terni, presidente da Nokia no Brasil.

É uma estratégia ousada que revela um desejo claro de se manter
na liderança. Alguns caminhos estão sendo traçados nessa direção. Um deles é entrar com fôlego no mercado de entretenimento para os jovens. Nos próximos meses, a companhia colocará à venda nos Estados Unidos e Europa o N-Gage, o primeiro celular desenvolvido para jogos on-line. Esse é um mercado controlado pelo Game Boy, da japonesa Nintendo. O alvo da Nokia é a faixa de consumidores
abaixo dos 24 anos. Esse público gastará até o final do ano
cerca de US$ 14 bilhões em serviços de telefonia celular, segundo a consultoria W2F, de Londres. ?As apostas precisam ser feitas agora porque quem esperar a melhor oportunidade ficará para trás?, afirma André Pacheco, analista da consultoria de telecomunicações Yankee Group. ?Ainda é cedo para saber quem assumirá a liderança.?

A Nokia não perde tempo. A cada 15 dias, ela lança um novo equipamento para os seus potenciais clientes. Só neste ano a companhia espera vender 100 milhões de celulares com tela
colorida em todo o mundo. O Brasil é um mercado prioritário
nessa estratégia. O País ocupa a sétima posição entre os compradores de aparelhos Nokia e pesquisas internas da companhia revelam que o consumidor brasileiro está entre os mais interessados em novas tecnologias. Essa é a esperança da Nokia: convencer o mundo que está mudando e manter a sua liderança. A tarefa é árdua, mas pode render excelentes frutos para os executivos e os acionistas. Todos querem manter a atual rentabilidade capaz de gerar um lucro de US$ 5 bilhões ao ano.

Concorrência. É um jogo no qual a Nokia tem companhia, em especial da Motorola, que tenta recuperar a primeira colocação. É uma repetição da história, não como farsa, mas como realidade de mercado. ?Sabemos quais são as regras do jogo e vamos disputá-lo com todas as armas?, diz Luiz Carlos Cornetta, presidente da Motorola no Brasil. Para garantir um lugar de destaque nesse novo mundo, as companhias começaram a lançar modelos em um ritmo frenético. A Motorola programou para os próximos meses a venda de 24 novos modelos. A empresa, que conta com uma moderna fábrica no interior de São Paulo, pretende nacionalizar a fabricação de todos os aparelhos e aumentar sua participação no bolo brasileiro de 25% para 32% até dezembro. Outros personagens desse mundo também estão correndo contra o tempo. Os coreanos da LG, Samsung e a joint-venture Sony Ericsson e a Siemens acreditam ter em mãos um trunfo o para ganhar espaço no bolo. ?Todos os fabricantes estão sendo obrigados a se mexer?, diz Carlos Melo, diretor de tecnologia da área de celulares da coreana LG. O que ninguém quer é ficar parado para esperar o concorrente passar na frente.