Qualquer economista, analista ou executivo do mercado financeiro dava como certo mais um corte na taxa básica de juros que, desde outubro de 2016, vinha caindo mês a mês, saindo de 14,25% para 6,5%. Mais do que isso: se as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) fossem alvo de especulações de casas de apostas, a queda de mais 0,25 ponto percentual na Selic poderia ser considerada uma barbada. Até porque a economia ainda demora a reagir e a inflação está em 2,76%, bem abaixo do centro de 4,5%. Todos os prognósticos, portanto, indicavam que o BC daria mais uma injeção de ânimo para reaquecer o PIB. Não foi isso o que aconteceu. O Copom preferiu a cautela, manteve a Selic bem quietinha na casa dos 6,5% e, com isso, deu um banho de água fria em quem esperava mais um estímulo para fazer o Brasil sair da letargia.

A explicação é a de que é necessária uma boa dose de cautela diante do cenário externo. Na semana passada, mais precisamente na quinta-feira, 17 de maio, o barril do petróleo Brent do Mar do Norte atingiu US$ 80,18. A última vez que o óleo negro chegou neste valor foi em novembro de 2014. O preço do barril tem subido desenfreadamente por conta das incertezas sobre as produções da Venezuela, afundada num caos político e social, e do Irã, que acaba de ter o acordo nuclear revogado pelo presidente americano Donald Trump e sofrerá com sanções econômicas. A situação dos Estados Unidos também requer atenção. Tudo leva a crer que, em junho, o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vai elevar as taxas de juros, hoje na casa de 1,75%, e deve continuar na mesma toada de altas consecutivas nos próximos meses. Isso tem feito boa parte dos recursos investidos em países emergentes, como o Brasil, voarem para a terra do Tio Sam.

O efeito colateral é a alta do dólar. E que alta. Na mesma quinta-feira, 17 de maio, quando o petróleo batia recorde de preço, a moeda americana fazia o mesmo por aqui. O dólar fechou a R$ 3,701, o que não se via desde março de 2016. Em qualquer outra época, o Brasil sentiria essas mudanças como um golpe no estômago. Mas o cenário atual é muito diferente. O País tem US$ 380 bilhões em reservas internacionais, um guarda-chuva bem resistente para enfrentar a tempestade que vem de fora. Justamente por isso, o Copom poderia ter continuado a cortar a Selic. Mais uma queda não resolveria os problemas econômicos do País, mas ajudaria a manter o motor do crescimento ligado.

O Brasil ostenta uma vergonhosa taxa de desemprego de 13,1% da população economicamente ativa. São 13,7 milhões de pessoas sem trabalho. A inflação, por sua vez, está no chão – o que mostra a falta de apetite para o consumo, e o PIB passou a ser revisado. Se antes era esperado um crescimento de 3%, agora o mercado já prevê uma alta mais tímida, perto dos 2%. As condições externas continuarão desafiando o País, mas é aqui dentro, ainda mais em um ano eleitoral cheio de incertezas, que é preciso agir para estimular o consumo. E com urgência.

(Nota publicada na Edição 1070 da Revista Dinheiro)