A inglesa Vodafone pode atravessar a festa anunciada de espanhóis e portugueses e levar um pedaço da última fronteira das comunicações do País: as três novas bandas da telefonia celular. Fechada em copas, a empresa deve arriscar todas as fichas no próximo leilão da banda C, no dia 30, para entrar no mercado brasileiro de telecomunicações, consolidar a posição de maior empresa de telefonia móvel do mundo e estrear na América do Sul. Para entrar no jogo, já registrou duas empresas no País. Em São Paulo deve disputar a banda C com a Portugal Telecom e, provavelmente, com empresas norte-americanas, entre elas a Bell South e a ATL.

Os leilões das três bandas de transmissão, que terminam em março, despertaram o interesse de 70 empresas. Mas apesar disso, analistas, governo e as próprias operadoras acreditam que surpresas só podem acontecer na banda C. A briga promete ser boa. A Vodafone não costuma conjugar o verbo perder. Essa licitação é a última oportunidade de a empresa entrar no mercado brasileiro de telefonia. Os americanos também estão na chamada final. Se perderem, ficam fora do mercado brasileiro.

Para as outras duas faixas, a expectativa recai sobre os atuais participantes do setor como prováveis vencedores das bandas. Proibidas de participar da licitação da banda C, as operadoras fixas Telemar, Brasil Telecom e Telefonica são as mais cotadas para abocanhar as duas faixas restantes da telefonia celular nas áreas onde já atuam ou expandir seus domínios. ?Elas estão com a faca e o queijo na mão porque já dispõem da infra-estrutura e vão poder aproveitá-la no Serviço Móvel Pessoal?, explica o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), um dos parlamentares que melhor conhecem o setor, referindo-se às novas bandas.

Independentemente da faixa de freqüência, os leilões que se encerram em março têm uma série de atrativos. Os vencedores terão a chance de instalar mais 35 milhões de terminais móveis nos próximos cinco anos no País, elevando para 58 milhões o número de celulares em operação. Ou seja, o lucro é certo e vai logo cobrir os gastos. Somente os leilões terão o preço mínimo fixado em R$ 6,73 bilhões. Além disso, os ganhadores levam mais uma faixa de freqüência na licitação do SMP e asseguram a liderança do bilionário mercado de comunicação que desponta. Para quem já está nas bandas A e B, as novas faixas vão abrir a possibilidade de operar nacionalmente. Tudo isso está forçando uma reorganização de forças que, no médio prazo, deve resultar na concentração do setor. Os 12 grupos controladores das 18 maiores companhias serão reduzidos para no máximo cinco.

As próximas semanas prometem ser decisivas. A qualquer momento novas fusões, incorporações e até mesmo a criação de subsidiárias devem ser anunciadas. ?Todas as empresas sabem que não há como se pensar em telefonia no futuro sem mobilidade, por isso a disputa tem tudo para ser acirrada?, diz Pedro Batista, consultor do Banco Pactual. Há tanto interesse que até operadoras rivais estão se aproximando. É o caso da Telemar, que se uniu à Brasil Telecom (BrT) para disputar a banda D em São Paulo. As duas também teriam firmado um acordo para não entrar nas áreas onde a outra opera a telefonia fixa.

Outra grande incógnita é a participação das empresas-espelho, como a Vésper e a Intelig, que competem com as concessionárias. Analistas acham que elas acabarão fora da disputa por causa das dificuldades em levantar capital. Para o vice-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Luiz Francisco Perrone, fazer qualquer previsão agora é pedir para errar. ?Em se tratando de uma licitação como essa, não dá para chutar”, diz.