A anglo-holandesa Shell, maior petroleira da Europa, causou furor na comunidade ambientalista ao publicar, na semana passada, uma visão atualizada sobre as mudanças climáticas. Na publicação, a companhia afirma que o mundo pode atingir a meta estabelecida no Acordo de Paris, de reduzir em 2°C o aquecimento global pelos próximos 50 anos, desde que “reescreva toda a economia mundial”. Para isso se tornar uma realidade, será preciso promover a mais rápida transição energética da história, além de uma complexa combinação de fatores sociais e econômicos. Batizado de Sky, o cenário traçado pela Shell chegou a ser classificado como “radical”.

Isso porque ele pressupõe mudanças profundas não só na geração energética, mas também nos hábitos de consumo da população e na vontade política de fazer essas transformações. “As pessoas vão escolher, preferencialmente, opções de alta eficiência para suas necessiades de energia”, diz a Shell. Para se concretizar, algumas premissas precisam acontecer. Por exemplo: metade da frota mundial de carros será elétrica em 2030. O documento considera que a demanda global por carvão já atingiu o seu ponto máximo. O pico de consumo do petróleo, por sua vez, será atingido em 2025. Em 2060, o Sol será a maior fonte de energia, duas vezes maior do que qualquer outra. O Planeta chegará a um cenário de emissões zero em 2070, passando a registrar emissões negativas a partir de então.

O estudo em questão é um dos cenários traçados pela petroleira para o setor de energia. Esse é um trabalho que a Shell vem fazendo há cinco décadas. O objetivo é apresentar uma visão do futuro que seja plausível e, a partir dele, estabelecer estratégias e parcerias dentro desse contexto. Nesse sentido, o fato de a companhia admitir a possibilidade de se alcançar a meta de Paris é visto como algo positivo. “Por muitos anos, a Shell refutou a ideia de que o mundo veria esforços efetivos em relação às mudanças climáticas”, afirmou, em artigo, Simon Evans, PhD em bioquímica pela Universidade de Bristol, na Inglaterra, e editor do CarbonBrief, site especializado no assunto.

O cenário recebeu críticas por considerar que a demanda por petróleo permanecerá praticamente a mesma pelas próximas quatro décadas. Porém, as previsões estão em linha com boa parte dos cálculos da comunidade científica. Apesar de a Shell afirmar que se trata apenas de uma visão, o documento mostra que até a indústria do petróleo está levando a sério as mudanças climáticas.

(Nota publicada na Edição 1064 da Revista Dinheiro)