Não tem jeito, o presidente está plenamente convencido de que a política de gestão dos preços dos combustíveis da Petrobras será o fator mais determinante na corrida às urnas daqui por diante. Por isso mesmo tenta de todas as maneiras tirar de seus ombros o fardo e a responsabilidade do aumento das tarifas. Não apenas movimentando de maneira irresponsável os titulares da companhia — já promoveu três demissões de presidentes da estatal, além do Ministro das Minas e Energia, pelo mesmo motivo —, como também atacando frontalmente as decisões tomadas ali, como se não tivesse nada a ver com isso. Chocou o mercado, e especialmente os acionistas, a última declaração do mandatário de que a Petrobras quer quebrar o Brasil. Muitos lembraram da postura cínica incutida nessa alegação, já que o governo ficou com R$ 44 bilhões de lucro da empresa somente neste ano. Ou seja: sem essa dinheirama, nem mesmo as famigeradas emendas secretas que o capitão usa para comprar apoio político dos partidos seria possível. Bolsonaro agora fala em “fatiar” a estatal. Demagogicamente trata do “papel social” da companhia. É mais um dos inúmeros coelhos e invencionices tirados da cartola para entreter a turba. Da mesma lavra da conversa fiada de privatizar a empresa. Sabe que não irá fazê-lo nem nesse mandato, que dirá em um eventual próximo. Mas serve de discurso eleitoreiro. Paradoxalmente, o presidente fala em vender a empresa para a iniciativa privada, mas prega um controle de preços — duas preposições absolutamente inconciliáveis. A transferência de um monopólio ao mercado traria consequências bem mais complexas que as atuais. Bolsonaro joga para a plateia enquanto mina as forças e o prestígio de uma corporação internacionalmente respeitada. Ele reclama do “lucro fenomenal”, que no seu entender “não se compara percentualmente com o de outras petrolíferas do mundo todo”, mas não se queixa dos dividendos que ela tem gerado para o caixa da União. O Governo formalizou a inclusão da Petrobras na carteira do Programa de Parcerias e Investimentos apenas como instrumento de campanha. No entanto, como até o mundo mineral sabe, a desestatização e o preço do combustível são questões distintas. Não há como impedir a paridade de tarifas com o mercado internacional por meio desse movimento. O mandatário se serve da ambiguidade para fins pessoais e tenta assim se desvencilhar do problema. O Congresso, cooptado pelo comandante da Câmara, Arthur Lira, trabalha na mesma direção e ameaça tomar “medidas mais duras” caso a empresa não seja privatizada. Tudo jogo de cena. O governo vender ações para deixar de ser majoritário na estatal do petróleo está longe de ser a solução. A ofensiva atual diz muito mais da falta de capacidade do governo de oferecer saídas que qualquer outra coisa. Na ponta do mundo real, a Petrobras informou sobre o risco da falta de diesel já para os próximos dias. O projeto de teto para o ICMS que tramita nas casas legislativas pode até atenuar o efeito de alta dos preços, mas deve gerar um monumental custo paralelo a ser pago pelo caixa do Estado, porque as unidades federativas não vão aceitar de bom grado amargar o prejuízo sozinhas. O resto é espuma de candidato.

Carlos José Marques Diretor editorial