No dia 20 de dezembro do ano passado, o Conselho Nacional de Seguros Privados aprovou a Resolução nº 359, que permite a uma seguradora ser 100% digital. Pode parecer apenas um ato burocrático, mas a medida abre as portas para uma revolução no setor. Dez entre dez lideranças do mercado concordam que a burocracia excessiva na contratação e na gestão dos serviços é o principal entrave ao crescimento. Para driblar os carimbos e formulários em papel, as seguradoras contam com um sopro de inovação. Conhecidas como insurtechs, as empresas dedicadas a desenvolver soluções tecnológicas para as seguradoras vêm ganhando importância. Essas startups atraíram US$ 9,2 bilhões em investimentos entre 2010 e 2016 em todo o mundo, segundo a consultoria de origem espanhola Everis.

No Brasil, não há dados oficiais, mas a Câmara de Comércio Eletrônico (Câmara e-net) começou a rastrear essas companhias em meados de 2017 e descobriu 25 em atividade. No início deste ano, o número já tinha crescido para 40 e há mais 20 na fase pré-operacional. “A cada dia descobrimos mais uma”, diz Mauro Gamboa, consultor do comitê de insurtechs da Câmara e-net. A tecnologia pode incrementar a cultura securitária no Brasil, diz Carlos De Paula, diretor de Supervisão de Conduta da Superintendência de Seguros Privados (Susep). “As insurtechs devem contribuir para o crescimento do setor, por alcançarem nichos em que as grandes seguradoras não atuam.”

Um desses segmentos é o seguro para os 20,9 milhões de motociclistas que circulam pelo País, dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A insurtech Thinkseg pesquisou os 5,3 milhões que vivem na região Sudeste e descobriu que apenas 1% têm seguro. Para facilitar sua proteção, a Thinkseg desenvolveu uma plataforma que integra seguradoras e clientes e pode ser acessada pelo celular. “Em cinco minutos, a pessoa vê sua cotação”, diz Andre Gregori, presidente da companhia. O serviço está em linha com uma das principais tendências deste mercado: o uso da tecnologia móvel. Uma pesquisa da consultoria PwC, realizada junto a 189 seguradoras em 40 países, mostrou que apenas 25% dos clientes contratam seguros pelo celular. A meta das empresas é elevar esse percentual para 90% no médio prazo.

Para estimular outras iniciativas como essa no Brasil, a Susep admite que é preciso começar a discutir um tema espinhoso: as exigências de capital para as empresas de menor porte, que hoje representam 10% do setor. O assunto ainda está sendo avaliado por um grupo de estudo da autarquia, que reúne 20 profissionais dedicados a avaliar a atuação das insurtechs. “Essa pode ser uma das diversas estratégias de fomento a esse segmento, mas a discussão ainda está no início”, diz De Paula, da Susep. “É um desafio promover uma supervisão que possibilite a expansão das empresas de menor porte”.


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