Uma pantera de 1,66 metro, 55 quilos, cabelos negros lisos e sorriso contagiante está fazendo Brasília ouvir seus rugidos. Nomeada pelo ministro da Previdência Social, Waldeck Ornélas, para a Secretaria de Previdência Complementar, a economista Solange Paiva Vieira, 31, virou centro das atenções por abalar as estruturas dos fundos de pensão, setor marcado por irregularidades e denúncias de corrupção. Em pouco mais de 8 semanas, essa carioca de Valença determinou a intervenção em seis fundos, demitiu os três principais assessores da pasta, suspendeu atos da administração anterior e está mudando as regras de funcionamento da previdência complementar no País. Está sendo chamada de a fera dos fundos de pensão.

As reformas também já chegaram à área física da Secretaria. Entre as várias mudanças, mandou colocar vidros nas divisórias de todas as salas ? sinal de que está mesmo disposta a tornar a previdência complementar mais transparente. Trata-se de um segmento que representa 1,7 milhão de pessoas e detém patrimônio superior a R$ 128 bilhões, mas que sempre foi uma caixa preta. ?Ela está cutucando os lobos com vara curta?, avisa um representante dos fundos de pensão. ?A chiadeira vem dos maus gestores de fundos?, rebate Solange. O clima de animosidade é grande e amigos mais próximos aconselharam o uso de um colete a prova de balas. A sugestão não foi aceita. ?Seria um sinal de que a batalha foi perdida?, diz.

A decisão da secretária de fazer valer os limites fixados por lei para a contribuição das estatais é uma das medidas que causou maior polêmica. Algumas empresas contribuíam com valores até seis vezes maiores do que os participantes. O resultado foi um déficit de R$ 16,8 bilhões. Os participantes desembolsaram menos de R$ 400 milhões. Outro alvo de críticas é a ampliação da idade mínima de 55 para 65 anos para o resgate dos planos de aposentadoria. O governo diz que o objetivo é permitir o aumento da poupança interna do País. As entidades argumentam que o efeito será inverso. ?Tudo isso mostra que a secretária ainda está crua para a função?, espeta outro dirigente. Solange responde às críticas. Segundo ela, estudos mostram que mais de 54% dos participantes dos fundos das estatais têm idade ativa superior a 60 anos. ?Isso revela que os limites que estabelecemos já são implantados pelos próprios planos?, diz ela.

Em Brasília, Solange cultiva a imagem de ?durona?, característica que, às vezes, esbarra na arrogância. Discretamente vaidosa, sempre vestida com taillers de cores sóbrias, ela mantém um distanciamento de seus interlocutores no campo profissional. Na mesa de um bar, porém, os amigos garantem que é dona de um papo agradável e de boa cultura geral. A pantera chegou à Secretaria graças a um certo fator previdenciário, um novo cálculo para aposentadorias dos trabalhadores do INSS. O fator, até hoje visto como um redutor de benefícios, foi o que lançou luzes sobre sua atuação. Sem conhecimentos profundos sobre Previdência, ela busca opiniões de especialistas. O ex-ministro Maílson da Nóbrega e o advogado paulista Wladimir Martinez, um expert no assunto, são dois dos interlocutores mais freqüentes. Para compensar a pouca experiência, também tem trabalhado em doses cavalares. Raramente entra no ministério depois das 8 horas ou sai antes da meia-noite. Diz que está tentando acompanhar o ritmo de crescimento dos fundos. ?A gestão anterior da secretaria estava meio parada?, dispara.

Até chegar à Secretaria, seu currículo resumia-se à atuação na área de planejamento do BNDES, onde ingressou por concurso público. Com mestrado em Economia na FGV, ela deu aulas na PUC do Rio. Até que aceitou o convite que a está transformando na pantera da Previdência. ?Solange é jovem, mas tem uma espetacular capacidade de análise financeira?, desmancha-se o ministro Waldeck Ornélas.

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