O presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), Rafael Pereira, falou em entrevista à DINHEIRO sobre o momento de dificuldade enfrentado pelas fintechs por causa da crise gerada pela Covid-19. Pereira afirma que a entidade negocia com o governo medidas que possam ajudar o setor e acredita que a pandemia irá acelerar o processo de consolidação do segmento no Brasil.

Qual o papel da ABCD?
A ABCD foi criada em 2016, quando percebemos que, nesse ambiente altamente regulado, era necessário construir uma entidade para promover a democratização do acesso ao crédito por meio da tecnologia e forçar a redução do spread bancário. Também entendemos que não dava para abraçar tudo sobre as fintechs porque elas são muito abrangentes: atuam com criptomoedas, pagamentos, crédito, por isso focamos na agenda do crédito. Começamos com sete, temos 25 associadas.

Qual foi o impacto da pandemia nas fintechs?
Há um ponto positivo no fato de vivermos em um cenário em que as pessoas não podem circular. As fintechs se encaixam bem nessa situação porque estamos falando em fazer com que os serviços de produtos financeiros cheguem na ponta de uma forma eficiente, barata, e que o cliente pode resolver sozinho de casa com um celular na mão.

Um cenário bem positivo…
Mas há dois desafios. O primeiro deles se refere ao acesso a financiamento. As fintechs usam o mercado de capitais para a obtenção de recursos. Com a pandemia, o mercado de capitais chegou a parar completamente. O segundo desafio é com relação ao risco de crédito das famílias e das empresas, que aumentou muito. A retomada dependerá de empréstimos, mas vamos fazê-los em que base? Com quais carências? Quais garantias?

Há alguma proposta para resolver o impasse?
Discutimos algumas opções com o governo, entre elas a possibilidade de gerar liquidez de forma que as operações se aproximem do que eram antes da crise. Quanto ao risco de crédito, a questão está na imprevisibilidade causada, em parte, por falta de coordenação dos agentes públicos.

De que maneira?
Vamos pegar um restaurante como exemplo. Na situação atual, o faturamento caiu a zero, mas as despesas continuam. O dono do estabelecimento precisa pegar um empréstimo para continuar, mas para devolver ele precisa estar aberto e faturar. Quando esse restaurante reabre? E ainda há várias medidas sendo discutidas no Legislativo, que podem alterar as regras de proteção ao crédito.

A tendência do setor nesse cenário é se retrair. Entendemos que deverá haver um modelo com participação do governo para amortecer esse risco.

Vocês apresentaram propostas…
Algumas coisas estão caminhando. O BNDES publicou um edital no fim do mês passado que vai colocar R$ 4 bilhões do banco de fomento mais R$ 1 bilhão do mercado para micro e pequenas.

Mas quando esse dinheiro vai chegar?
Começou a ser trabalhado no início da pandemia, o edital saiu em maio e o cadastramento foi até 10 de junho. O dinheiro deve sair no fim de agosto.

E qual a tendência para as fintechs?
Elas existem no Brasil há cerca de sete anos. Umas dez lideraram o processo. Depois surgiu uma avalanche, que enxergou nichos de oportunidades. A etapa seguinte é a consolidação do mercado.

E a pandemia acelera esse processo. Acredito que fusões aconteçam, principalmente entre fintechs. Haverá casos de fintechs sendo absorvidas por bancos, mas em menor escala.

PARCERIA
TecBan fecha com Ozone para Open Banking

A TecBan, administradora do Banco24Horas, está patrocinando uma iniciativa para acelerar o desenvolvimento do ecossistema de Open Banking no Brasil. O trabalho será desenvolvido por meio de uma parceria com a Ozone, plataforma utilizada na implantação do Open Banking no Reino Unido. A iniciativa acompanha a regulamentação do Open Banking no Brasil, anunciada pelo BC no início de maio. Os primeiros testes serão feitos pela plataforma de ‘sandbox’ da Ozone, espaço para desenvolver aplicativos e serviços compatíveis com o Open Banking brasileiro. Para colocar a ideia em prática, a TecBan fará dias 25 e 26 de julho, um hackathon (maratona na qual hackers tentam achar vulnerabilidades no sistema para melhorá-lo).

BENEFÍCIO
Maquininha do C6 terá taxa zero até 31 de 
Agosto

Como forma de ajudar pequenos empreendedores a enfrentar a pandemia do novo coronavírus e fidelizar clientes, o C6 Bank zerou a taxa das maquininhas C6 Pay nas operações de crédito à vista. A isenção da taxa MDR (Merchant Discount Rate) nas operações de crédito à vista — que costuma ser, em média, de 3,29% por operação — vale para todos os clientes que optarem por receber as vendas no C6 Bank. O benefício está limitado a R$ 5 mil em vendas totais no mês e não vale para compras parceladas no crédito. Os estabelecimentos que fizerem a adesão aos equipamentos da marca até 30 de junho terão a isenção da taxa até 31 de agosto de 2020. Quem já tem a maquininha C6 Pay também pode pedir o benefício.

Número da semana
4,8% 

É a expectativa de inflação dos próximos 12 meses, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, divulgada na terça-feira (23). O índice apurado mostra estabilidade em relação ao divulgado no mês de maio e representa redução de 0,6 ponto percentual em comparação com a expectativa de junho de 2019. Apesar de a mediana da estimativa de inflação dos consumidores permanecer no mesmo nível de maio, houve diminuição da inflação projetada para as famílias dos extremos de renda da pesquisa. A boa notícia fica por conta do comportamento da renda mais alta, que, pela primeira vez, ficou abaixo do patamar de 4%, o que converge cada vez mais para a expectativa dos especialistas de mercado, segundo análise de Renata de Mello Franco, economista da FGV-Ibre.