Depois de viver maus momentos na década de 90, o Grupo Bardella, fabricante de equipamentos industriais, começa a dar a volta por cima. Dirigida por Cláudio Bardella, um dos nomes mais respeitados ? e misteriosos ? do mundo empresarial, a companhia está agitada. Encomendas chegam de vários cantos do País. Recentemente, ganhou a concorrência para fornecer equipamentos a seis usinas hidrelétricas e fechou contratos com empresas como a CSN, Cosipa, Grupo Caemi e Galvasud. Há muito tempo não se via tanta animação nas duas fábricas, instaladas numa área de 180 mil metros quadrados em Guarulhos e Sorocaba, no Estado de São Paulo. ?O cenário econômico é favorável?, resume o empresário à DINHEIRO, numa de suas raras declarações. ?Lutamos com todas as armas para manter a empresa de pé?, explica José Roberto Mendes da Silva, vice-presidente do grupo. ?Somos sobreviventes.?

A virada da companhia tem sabor especial para Cláudio. O empresário faz parte da história econômica do País e hoje, aos 62 anos, é um dos poucos brasileiros do setor de bens de capital a manter ainda as portas de suas fábricas abertas. Ele foi vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e um dos fundadores do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). ?Cláudio é um visionário?, elogia o ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), Sérgio Magalhães. Por ser inventivo, fazer previsões acertadas e ter sempre uma opinião sobre qualquer assunto, os amigos de Bardella costumam chamá-lo de ?Professor Pardal?. Diferente do inventor dos quadrinhos, no entanto, o empresário, baterista nas horas vagas, também é conhecido por seus hábitos sofisticados, como velejar em barcos de luxo e criar cavalos árabes em seu haras em Tatuí, interior paulista.

Bruno Schultze

Silva, o vice: privatização ampliou vendas dos equipamentos
O grupo faturou mais de R$ 200 milhões anuais nas décadas de 70 e 80 e tem em seu portfólio feitos como a construção das duas maiores pontes rolantes do mundo, da Usina de Itaipu. Na década de 90, vendeu menos de R$ 50 milhões por ano. A carteira de pedidos minguou, estatais deram calote e, para piorar, a investida em exportações foi um verdadeiro desastre. ?As vendas de equipamentos para os Estados Unidos esbarraram, em 1994 e em 1995, na valorização do real. Perdemos dinheiro?, lamenta o gerente de controladoria da Bardella, Roberto Stefaneli. A recuperação começou mesmo a acontecer há dois anos, quando as privatizações refletiram fortemente no mercado de bens de capital. Em 1998, a receita saltou para R$ 167 milhões. No ano passado, um revés. O resultado caiu para R$ 143 milhões. ?A crise asiática e a mudança cambial nos atrapalharam?, justifica Silva. Nada que o assuste. ?Podemos crescer até uns 30% em 2000.?

A expansão da empresa deve ganhar impulso com o crescimento de setores da economia como as indústrias automotiva e a de papel e celulose. Hoje, a companhia ostenta um patrimônio de R$ 249 milhões e um caixa disponível de R$ 168 milhões. ?O endividamento não chega a R$ 80 milhões, o que garante uma situação muito confortável?, afirma Alberto Borges Mathias, professor especializado em finanças da USP. Para preparar a Bardella para a abertura de mercado, Cláudio também contratou, em 1995, a McKinsey. Missão: pilotar uma reestruturação societária. Empresas foram agrupadas, o quadro de pessoal se reduziu em 60% e o ganho de produtividade bateu na casa dos 20%. ?Minha intenção era reduzir custos e introduzir novos processos?, sintetiza o empresário. Esse estilo cauteloso e austero Cláudio Bardella tem cultivado desde que, em 1971, aos 33 anos de idade, assumiu a presidência da companhia depois que o pai, Aldo Bardella, contraiu o Mal de Parkinson. Em sua experiência somava a graduação pela Faculdade de Engenharia Industrial, estágios no exterior e cinco anos como diretor-executivo da companhia. Jovem, Cláudio já dava os primeiros sinais de um empresário meticuloso. Quando, entre 1970 e 1980, o governo convidou os industriais a participar do projeto de transformação do País numa potência mundial, ele resistiu à tentação de aderir, com avidez, aos créditos oficiais com uma frase: ?Nós somos conservadores?. Muitos dos concorrentes da Bardella fizeram fila no BNDES. ?Resultado: os empresários endividaram-se, mas as encomendas não se confirmaram.? No rol de empresários que caíram no conto da sereia não estava Cláudio Bardella. Pelo contrário. ?Passamos pela década de 70 sem dívidas, com muita austeridade na gestão e já procurando se adaptar a uma economia aberta?, ensina. Uma lição para empresas como Cobrasma, Dedini, Zanini, Villares e Confab, que perderam o brilho ou sumiram do mapa.

A Receita de Bardella

Biô Barreira

DINHEIRO ? Como a companhia conseguiu superar a crise dos anos 90?
CLáUDIO BARDELLA ? Operamos com baixo endividamento e muita austeridade.

DINHEIRO ? Como o senhor está preparando a sucessão?
A gestão da empresa vem sendo feita por profissionais e assim continuará.