Diante de uma possível venda de sua operação de telefonia celular, a Oi tem apresentado ao mercado outra cara, para ficar mais perto do encerramento de sua recuperação judicial decorrente de dívida bilionária e, enfim, escapar da difícil situação financeira que teve auge em 2016. Um movimento que tem à frente um novo presidente, Rodrigo Abreu (ex-Cisco e ex-TIM), apresentado em janeiro, e outro posicionamento ao mercado, mais engajada em oferecer soluções tecnológicas para outras empresas – desde micros até de grande porte –, inclusive com ferramentas de reconhecimento facial, de cibersegurança e de logística. O foco na relação B2B como provedora e integradora de soluções digitais transforma a companhia, que passa a ter uma forte vertente tech puro-sangue. Assim surge a Oi Soluções. “Já não somos mais apenas uma empresa de infraestrutura, apesar de esse ser um grande pilar estratégico, com a maior rede de fibra ótica do Brasil”, afirma Adriana Viali, head da Oi Soluções. “Para o mercado corporativo, temos de atender aos clientes em todas as suas necessidades, desde a infraestrutura até soluções mais complexas de TI (Tecnologia da Informação).”

A companhia investiu cerca de R$ 1 bilhão no B2B nos últimos quatro anos. Em 2019, o investimento total somou R$ 7,3 bilhões. Para 2020, a previsão é de R$ 7 bilhões. Em janeiro, a geração de caixa operacional líquida ficou negativa em R$ 413 milhões, mas o saldo final do caixa financeiro saiu de R$ 1,8 bilhão para R$ 3,7 bilhões em um mês, por causa da emissão de debêntures e venda de ativos.

Isso tem permitido o avanço no B2B. As iniciativas digitais para o mercado corporativo já representam 15% do faturamento da Oi. A projeção é chegar a 33% em 2024. “É uma meta ambiciosa. Em TI, somos entrante, mas entramos grandes”, diz Adriana Viali, ao apontar como “diferencial” a atual infraestrutura de 376 mil quilômetros de fibra ótica, capilaridade de 36 mil técnicos de campo, 1,5 mil executivos para atender exclusivamente o segmento corporativo e uma carteira de clientes de 57 mil empresas dos mais variados setores e tamanhos.

As soluções tecnológicas da Oi ao mercado estão divididas em seis partes: Cloud & Data Center, IoT (Internet das Coisas), Big Data & Analytics, Cibersegurança, Conectividade de Dados e Voz e Gestão. “Tudo visa redução de custos e maior  ficiência dos processos que podemos levar aos clientes”, afirma Viali. A maioria das ferramentas foi criada dentro da própria Oi, para resolver problemas internos.

ENTRETENIMENTO: A Oi Soluções estreou na CCXP, em dezembro do ano passado, oferecendo ao evento gerenciamento integrado de Conecividade, TI e Cibersegurança, tudo acompanhado por profissionais da empresa de um centro de comando e controle, que funcionou como cérebro da feira. (Crédito:Divulgação)

O portfólio é apresentado por especialistas na sede da Oi Soluções, em prédio comercial na Zona Sul da capital paulista. Cerca de 20 clientes ou potenciais compradores visitam o ‘showroom’ mensalmente e conhecem as características de cada uma das seis estações. “Pensamos em soluções em conjunto. É uma sala de inspiração.”

Entre as opções de Cloud & Data Center, a Oi possui cinco grandes centros de processamento de dados, para serviços de armazenamento em nuvem. O cliente precisa ter apenas uma página na web para orquestrar suas ações. Também é possível fazer reuniões por teleconferência para até 3 mil participantes. “Uma rede varejista pode fazer uma reunião com funcionários em todo o Brasil para mostrar as novidades do dia”, afirma Adriana Viali. Tribunais de Justiça também usam a ferramenta para realizar audiências e depoimentos a distância.

Na área de IoT, o catálogo possui desde conectividade por lâmpadas ou aparelhos de ar-condicionado até solução para gestão de rotas para companhias logísticas, de transporte, varejo ou órgãos governamentais. Esse dispositivo surgiu de dentro da Oi, por necessidade de controle de seus mais de 30 mil colaboradores que estão nas ruas todos os dias. A empresa já presta o serviço para outras companhias que juntas somam outros 30 mil carros monitorados. As informações são detalhadas. É possível saber quando o motorista entra no veículo, quantas vezes o motor foi ligado fora do horário de trabalho, se saiu cantando pneu ou freou bruscamente, se trocou de faixa em velocidade. Com o uso de software, a empresa pode determinar um perímetro por onde o carro pode transitar em um mapa. Uma espécie de cerca virtual. Se sair dessa área, um sinal é acionado e o supervisor é alertado sobre a saída da rota.

A tecnologia para reconhecimento facial também tem várias funções. É uma das ‘meninas dos olhos’ da Oi. Pode ser usada para entender o movimento de uma loja. Ao entrar no estabelecimento, o cliente é focalizado e, a partir do banco de dados, o vendedor já sabe qual seu histórico de compras, em quantidade e em características. A partir disso, é feita abordagem mais assertiva. Ou ainda pode ser disparada uma promoção específica para aquele consumidor. Pode funcionar ainda como uma catraca virtual: o funcionário passa pela porta, é reconhecido pela câmera e sua entrada é liberada e seu ponto batido.

Essa ferramenta também tem potencial para ajudar as forças de segurança. Foi usada de forma experimental em 2019 no Carnaval do Rio de Janeiro, em eventos no Estádio do Maracanã e no entorno do Aeroporto Santos Dumont. Em parceria com a Polícia Militar carioca, a Oi disponibilizou 105 câmeras de alta definição com software de reconhecimento facial conectado com o banco de dados da Secretaria de Segurança do Estado. Os equipamentos sinalizavam a possibilidade de presença de pessoas com mandados de prisão expedidos e, a partir dessa informação observada na central de comando, os policiais faziam a abordagem para averiguação. Foram capturados 63 criminosos. “Essa união do homem com a máquina deu muito certo. Esse sistema se mostrou um aliado da segurança pública”, afirma o coronel Mauro Fliess, da PM do Rio de Janeiro.

No campo da Big Data & Analytics, a Oi Soluções vende informações. Com uma base de 56 milhões de clientes, entre empresas e pessoas físicas, os dados são usados em forma de pesquisa, para definir onde é melhor abrir um supermercado, por exemplo, levando em consideração o perfil socioeconômico dos consumidores de determinadas regiões e seus hábitos de consumo.

SEGURANÇA: Em parceria com a PM do Rio, a Oi disponibilizou sistema de reconhecimento facial no Carnaval de 2019 para identificar pessoas com mandados de prisão expedidos. Essa e outras duas ações, no Maracanã e no Aeroporto Santos Dumont, resultaram em 63 detenções. (Crédito:Divulgação)

A geolocalização permite outros levantamentos específicos. A Prefeitura de Salvador (Bahia) foi uma das clientes, para saber de onde eram a maioria dos turistas que frequentavam o Carnaval para definir ações estratégias. Pela autenticação dos chips da Oi nas antenas, soube-se que grande parte dos foliões saiu da região Centro-Oeste. “O cliente consegue acertar o planejamento de logística ou publicidade adequada com as informações”, diz Adriana Viali.

No setor de Cibersegurança, a companhia entrega camadas de proteção que vão desde filtros na nuvem, passando por monitoramento da rede do cliente, até o equipamento pessoal do usuário. Assim, atendem grandes bancos, com 3 mil agências, ou empresas com 10 computadores apenas.

O gerenciamento integrado de Conectividade, TI e Cibersegurança da Oi Soluções estreou na CCXP (Comic Con Experience), em dezembro do ano passado. “Entregamos inteligência”, afirma a head de soluções da Oi.

Oi analisa proposta de compra feita pela Vivo e TIM

Enquanto a Oi aposta em seus serviços de TI para o mercado corporativo como um dos pilares estratégicos para retomar o fôlego financeiro, sua operação móvel está na mira da Vivo e da TIM, que oficializaram recentemente interesse em iniciar tratativas de aquisição. A Claro também está de olho na movimentação.

Estimativas de analistas colocam o valor do negócio entre R$ 12 bilhões e R$ 20 bilhões, dependendo da fatia da empresa que entrará na jogada. Internamente, o assunto é tratado com cautela. “Não descartamos nenhuma situação, mas por enquanto são apenas possibilidades”, afirma Adriana Viali, head da Oi Soluções.

Em comunicado ao mercado no início do ano, a companhia pontua que “embora possa haver futuramente uma evolução de suas análises para um potencial processo formal de negociação, no momento a Oi segue analisando todas as alternativas existentes”.

A empresa está em recuperação judicial desde 2016, quando bateu R$ 65 bilhões em dívidas. Hoje, estima-se que o débito esteja em R$ 15 bilhões. Se a venda da operação móvel ainda não evolui, a Oi segue com o plano de venda de ativos. A negociação mais recente foi em fevereiro, de um imóvel localizado no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, pelo valor de R$ 120,5 milhões.

Eduardo Tude, da consultoria Teleco, afirma que a principal ação do plano de negócio da Oi é a fibra ótica, que tem recebido mais investimentos da companhia. A fibra ótica, inclusive, vai amparar a conectividade necessária para a empresa oferecer os novos serviços de tecnologia ao mercado corporativo. “As duas operações, fixa e móvel, exigem investimentos pesados. Para continuar com o serviço móvel, é preciso comprar mais frequência, por exemplo. E faltam recursos para investir nas duas operações. Então, a venda da móvel é uma alternativa real”, diz o especialista.

Se concretizado, o negócio mudaria o ranking das maiores empresas de telefonia móvel do Brasil. A Vivo permaneceria na liderança, atualmente com 74 milhões de celulares. Mas a Claro, que hoje possui 58 milhões de clientes, seria superada na segunda posição pela TIM, agora com 54 milhões de unidades.