No tabuleiro da eleição presidencial que, de uma forma ou de outra, repercute inevitavelmente na economia, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, caminha firme para ser a opção também do PMDB como candidato capaz de defender o legado do Governo – isso se o próprio Temer não se habilitar, diante da mudança de quadro cada vez mais a seu favor. Os números contam na fileira de vantagens. O investimento decolou. O PIB idem. Juros baixos no patamar recorde estimulando a volta do crédito. Inflação e câmbio controlados. Ânimo na indústria e no comércio. Reformas em andamento. Nessa onda de bons indicadores, Meirelles quer despontar como guardião da estabilidade.

Sonha repetir o feito de Fernando Henrique Cardoso, que foi eleito décadas atrás no lombo do Plano Real e da retomada econômica, após longo período de caos. Novamente, o Brasil está saindo de uma catástrofe sem precedentes, com hordas de desempregados, fábricas fechadas e negócios à míngua, que gerou um PIB negativo acumulado superior a 8,2%. Herança maldita dos anos de desmandos e equívocos da ex-presidente Dilma. Meirelles foi agente do conserto. Está de bem com as forças aliadas. E já se põe como alternativa mesmo em pleno exercício da pasta. Na semana passada ele gerou polêmica ao avaliar em entrevista que o presidenciável tucano Geraldo Alckmin não seria uma alternativa como nome do Planalto pela falta de comprometimento claro com a agenda de medidas oficiais e pela tendência de desembarque do PSDB da base aliada.

Não disse nada além da verdade, mas de pronto gerou reações alteradas por parte dos simpatizantes do governador paulista. O temor, no caso, é o da agremiação tucana ficar isolada na sua campanha, sem o suporte vital de outras legendas fortes. O presidente Temer, no íntimo, gostou do que Meirelles falou. Ainda não aceitou a ingratidão dos tucanos que vêm alfinetando sua gestão e ameaçando se retirar como estratégia eleitoreira. No caldeirão de negociações os eventos estão, portanto, conspirando a favor de Meirelles. Ele não possui ainda, é verdade, o traquejo político necessário e a empatia junto ao público para garantir uma vitória nas urnas.

Dizem especialistas que, com algum treino e boa embalagem, isso se resolve. Lembram que até Dilma conseguiu passar, apesar de sua total aversão à política. Meirelles, por enquanto, age nos bastidores. Só deverá formalizar a intenção em abril do próximo ano. Até lá, está em franco entendimento com legendas que possam lhe dar suporte. A ofensiva dele atende, em parte, ao desejo do eleitor pelo novo, como figura outsider da política, e pode consolidar uma força de centro aceitável para a maioria dos partidos que temem a disputa entre os extremos à esquerda e à direita.

(Nota publicada na Edição 1048 da Revista Dinheiro)