Os ambientalistas se afirmaram como a principal força de esquerda na França com a conquista histórica de várias cidades nas eleições municipais de domingo, uma recomposição do tabuleiro político vista em vários países europeus.

O partido Europa Ecologia – Os Verdes (EELV) ganhou força neste domingo, no segundo turno das municipais francesas, em várias cidades emblemáticas, como Lyon, governada pelo Partido Socialista (PS) desde 2001, e Bordeaux, reduto da direita há 73 anos.

Esse partido, que até agora administrava apenas algumas cidades francesas, das quais a maior era Grenoble (160.000 habitantes), também venceu em Estrasburgo, Besançon, Nancy e Tours. Em aliança com os socialistas, venceu em Paris e Marselha, as duas principais cidades do país.

“Esses resultados estão em sintonia com a onda que já foi confirmada durante as eleições europeias”, na qual o EEVL surpreendeu, ocupando o terceiro lugar com 13% dos votos, analisa para a AFP o cientista político Roman Meltz, pesquisador da Escola Superior Nacional de Lyon.

Desta vez, contudo, os ambientalistas, impulsionados pela crescente conscientização sobre questões ambientais, dão um passo adiante, explica Stewart Chau, analista da pesquisadora ViaVoice, já que “é a primeira vez que uma dinâmica observada nas eleições europeias é confirmada em outra eleição”.

Emmanuel Macron, cujo partido perdeu em todas as principais cidades francesas, agora deve “convencer sobre sua capacidade de agir em questões ambientais, que não é o tema com o qual seus eleitores o identificam”, avalia Estelle Craplet, analista da pesquisadora BVA.

– ‘Mudança de forças’ –

O avanço do EELV na França coincide com o crescimento de várias formações ecológicas em outros países da Europa.

Na Holanda, o partido ambientalista de esquerda GroenLinks superou o Partido Trabalhista nas eleições legislativas de 2017 e ficou lado a lado com os socialistas. Também conquistou as duas principais cidades do país, a capital Amsterdã e Utrecht, nas eleições municipais de 2018.

O mesmo aconteceu neste mesmo ano na Islândia, onde os ambientalistas superaram os social-democratas e venceram na capital Reykjavik.

Também na Alemanha, os Verdes vão de vento em popa e agora superam o Partido Social Democrata (SPD), que durante muito tempo foi o principal partido político de esquerda do país, nas intenções de voto.

“Estamos testemunhando uma mudança de forças, a menor está se tornando a maior”, explica Daniel Boy, pesquisador da Science Po e especialista em ecologia à AFP, apontando que a esquerda nem sempre deu à ecologia o lugar que o tema merecia.

Para Chloé Morin, cientista político associado à Fundação Jean-Jaurès, a sobrevivência dos partidos de esquerda depende de seu nível de adaptação.

“A ecologia levanta questões sociais, reinventa a esquerda. E quando os partidos de esquerda não sabem absorver essas questões, nesses casos são condenados”, explica.

Por outro lado, na Áustria, os ecologistas, que obtiveram seus melhores resultados nas eleições nacionais em setembro passado, chegaram a um acordo de governo de coalizão com o partido conservador Sebastian Kurz, um modelo sem precedentes no qual uniram “o melhor de ambos”.

Até agora, sua entrada nesta coalizão não parece ter afetado os Verdes entre sua base de eleitores urbanos e de esquerda.

As pesquisas mais recentes oferecem entre 15% e 17% nas intenções de voto. Os social-democratas, no entanto, continuam caindo nacionalmente, sugerindo que poderiam ser ofuscados pelos verdes se as tendências atuais continuarem.

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