Como em países da América Latina onde as estatais petroleiras costumam ser a joia da coroa da arrecadação federal, a Pemex (Petróleos Mexicanos) é a principal fonte de renda do governo mexicano. Por décadas, o governo recolheu automaticamente 95% do lucro aos cofres federais, uma política que fez sangrar os recursos da empresa e reduzir a capacidade de investimento. Os recursos levantados no mercado fizeram a companhia alcançar atualmente o posto da petroleira mais endividada do mundo — liderança já ocupada pela Petrobras na época do excesso de ingerência governamental. Com a eleição, no ano passado, do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, o futuro da estatal ficou ainda mais incerto e lembra um enredo que complicou a situação da gigante brasileira nas gestões do PT.

Amlo defende a independência energética do México e a produção de gasolina pela Pemex em todo país, com a construção de refinarias locais. Hoje, grande parte do que a companhia produz é refinado nos Estados Unidos por custos mais baratos. A ameaça assustou investidores. A agência de risco Fitch reduziu, em janeiro, a nota de classificação da empresa de BBB+ para BBB-, tornando-a um produto ruim para investimentos, num momento em que a petroleira mais precisa é de socorro. Em março deste ano, a dívida da companhia já chegava a US$ 107 bilhões.

Fundada há 80 anos, a empresa faturou no ano passado mais de US$ 80 bilhões e valia, em 2017, US$ 326 bilhões. Durante décadas parecia que a galinha dos ovos de ouro duraria para sempre, mas desde 2004 a produção vem caindo e hoje é 50% menor. As administrações dos últimos três presidentes nada fizeram para reverter a trajetória e a dívida chegou aos valores recordes de hoje. Em fevereiro, o novo presidente precisou injetar U$S 1,5 bilhão dos cofres públicos na companhia, além de conceder um desconto de US$ 800 milhões em desonerações. Os valores foram considerados pífios. Além da dívida que ultrapassa os U$S 100 bilhões, a estatal deve ainda outros U$ 70 bilhões de passivos trabalhistas. “O que o governo investiu não foi nada”, diz Patrícia Krausse, economista de América Latina da seguradora Coface. “Mas de onde viria o dinheiro para a ajuda? Se viesse do governo, isso comprometeria a nota do México em si.” Hoje, a avaliação de risco do país é BBB+.

Na prática, a situação da Pemex só não é pior do que a da PDVSA, a estatal petroleira da Venezuela, que está a beira do colapso tanto de produção como exportação. A empresa venezuelana não divulga seus números, mas de acordo com analistas, ela não chega a dever tanto como a concorrente mexicana. Tendo passado por uma situação de perdas bilionárias e desgaste de imagem com os escândalos de corrupção, a Petrobras tem se recuperado de uma grave crise, embora tenha ainda uma classificação de risco menor do que a da Pemex, de BB-. “Claro que a Petrobras sofreu muito. Mas o problema da Pemex é estrutural e mais grave do que o caso brasileiro”, afirma Edward Glossop, da consultoria britânica Capital Economics. “A Pemex precisa aprender como se financiar e não servir somente de caixa do governo.” Isso não está nos planos de Obrador — e não parece estar no futuro da companhia.