Não é novidade que os grandes grupos cervejeiros no Brasil tiveram de se render ao fenômeno mundial das cervejas artesanais. A aposta em sabores diferenciados da bebida mais popular do País fez o segmento disparar: 210 novas fábricas foram abertas em território nacional só em 2018, um crescimento de 35% em relação ao ano anterior. Ainda que o mercado permaneça dominado pelos rótulos tradicionais, a “gourmetização” do produto deixou a sua mensagem e mostrou que veio para ficar. Mas a cerveja não está sozinha nessa onda Outros setores também começaram a explorar produtos especiais para atrair consumidores mais exigentes . É o caso dos chocolates “bean to bar”, termo inglês que significa “da amêndoa à barra”.

Na prática, a produção desse tipo de chocolate envolve uma cadeia de etapas muito mais complexa em relação ao chocolate comercial que encontramos nas prateleiras dos supermercados. Isso acontece porque o fabricante participa de todas as fases do processo — desde a seleção das amêndoas até o produto final entregue para o consumidor. Nos Estados Unidos, um dos países pioneiros desse segmento, já são mais de 250 marcas focadas em bean to bar. No Brasil, o mercado ainda engatinha, mas já mostra o seu potencial de crescimento. Em 2014, essa nova variação do chocolate gourmet contava com apenas 22 marcas nacionais. Hoje, o número já é 70% maior.

Karen Neugebauer, dona da Forté Artisan Chocolates, empresa de chocolate de luxo mais premiada da América, falou à DINHEIRO durante o evento anual Bean to Bar Chocolate Week, em São Paulo. Ela acredita que esse mercado esteja prestes a passar por uma transformação colossal: “O Brasil tem a grande vantagem de usar todo o conhecimento e expertise que foram construídos nos Estados Unidos para conseguir crescer mais rápido”, diz. “Sou considerada como uma das avós desse processo de sofisticação do chocolate e estou ansiosa para ver a explosão do segmento nos próximos anos.”

Para o americano Greg D’Alesandre, um dos donos da prestigiada chocolateria Dandelion, com sede em São Francisco (EUA), a dificuldade de alavancagem se traduz pela falta de conhecimento do consumidor. “Nosso desafio é mostrar para as pessoas que o chocolate não é só aquilo que elas cresceram consumindo. Ele pode oferecer uma experiência completamente diferente”, diz. D’Alesandre projeta que o bean to bar deve alcançar o mesmo patamar de aceitação e estabilidade das cervejas artesanais em até 20 anos. “Não somos mais limitados aos sabores ao leite e amargo. Existe um mundo de sabores por aí.”