20/07/2018 - 11:00
Dribles desconcertantes, passes espetaculares, gols de placa e um domínio de bola impecável. Com esse vasto repertório, que lhe rendeu o apelido de Bruxo, não seria exagero dizer que Ronaldinho Gaúcho foi um dos últimos símbolos do futebol arte em sua essência. Eleito duas vezes o melhor jogador do mundo, o R10 colecionou passagens memoráveis em 20 anos como profissional. Em uma delas, quando defendia o Barcelona, em 2005, foi aplaudido de pé pelos torcedores do Real Madrid, maior rival do time catalão, em pleno Santiago Bernabéu, depois de marcar seu segundo, e belo, gol na partida. Aposentado, oficialmente, desde janeiro deste ano, o craque brasileiro parece disposto a mostrar suas habilidades em outros campos. E sua mais nova jogada veio à tona no início do mês, quando ele anunciou que irá lançar sua própria criptomoeda, a Ronaldinho Soccer Coin (RSC).
Fruto de uma parceria com a World Soccer Coin, startup com sede em Malta, a moeda virtual permeia um plano mais amplo, que contempla a realização de ligas com jogadores amadores, torneios de e-sports, uma plataforma de apostas online, a criação de uma rede de academias de futebol e a construção de 300 (!) estádios nos próximos três anos, em locais como Ásia, África e Oriente Médio. Nessa última frente, o site oficial do projeto informa que as obras de cinco estádios já estão em andamento, sendo que dois deles, na Ásia, têm previsão de início de operação ainda para este ano. Outra frente é o uso de recursos como realidade virtual e blockchain para criar um banco de dados com as habilidades de jogadores amadores em todo o mundo. “O projeto é um espelho do que o Ronaldinho fazia em campo”, diz Pedro Trengrouse, coordenador do programa executivo de aperfeiçoamento em gestão de esportes da FGV. “É um movimento inteligente, corajoso e de vanguarda.”
A incursão de Ronaldinho, no entanto, é vista com cautela por especialistas. A principal razão são as poucas informações sobre a RSC. Além da data de início da venda das moedas digitais para o público, 16 de agosto, e da oferta inicial de 140 milhões de RSCs, de um volume máximo de 350 milhões, não há mais detalhes. O site oficial não traz, por exemplo, o whitepaper do projeto, como é chamado o conjunto de normas técnicas de cada criptomoeda , que serve de guia para os investidores. “É difícil afirmar quais são os riscos e o potencial do projeto”, diz Luiz Calado, economista-chefe da corretora brasileira Mercado Bitcoin.
Fundador da corretora Coin BR, Rocelo Lopes engrossa o coro: “Me preocupa, a princípio, o quanto o Ronaldinho conhece sobre esse segmento”, diz Lopes. “Os outros nomes que estão por trás dessa iniciativa não são conhecidos no mercado de criptomoedas.” Procurado, o Assis Moreira Group, empresa de Assis Moreira, irmão de Ronaldinho, que gerencia os negócios do craque, não retornou o pedido de entrevista da DINHEIRO. Mas, ao que tudo indica, o Bruxo terá que driblar a desconfiança dos investidores para repetir, no mundo dos negócios, o sucesso que teve nos gramados.