A Xerox gastou os últimos dez anos tentando convencer todos ao seu redor que ninguém poderia ser tão associada ao mundo dos papéis quanto ela. A expressão The Document Company, introduzida em 1994, foi transformada na bandeira planetária de negócios. Foi uma tentativa de mostrar ao clientes que os documentos poderiam ser gerenciados de maneira eletrônica. Na semana passada, toda essa estratégia foi radicalizada. A presidente mundial da Xerox, Anne Mulcahy, anunciou que a companhia abandonará o antigo logo e incluirá no novo as expressões Tecnologia, Gerenciamento de Documentos e Serviços de Consultoria. Por trás dessa questão visual há um forte componente de negócios.

A Xerox pretende fugir de qualquer associação com o mundo analógico dos papéis e das copiadoras, que tanto renderam fama e dinheiro. Quer mostrar que é uma empresa múltipla e capaz de atender todas as necessidades dos seus clientes. A aposta agora é posicionar a marca como uma sócia do mundo digital no qual o papel é apenas uma parte do processo. No novo modelo, a empresa pretende colocar na sua vitrine uma série de serviços em torno de softwares, organização de documentos e consultoria. A mudança de rota que já estava em curso há algum tempo será acelerada. Mulcahy é a maior responsável por essa virada. Desde que assumiu o cargo, ela promoveu alterações na mentalidade da empresa criada em 1906. A maior dessas mudanças foi reinventar o modelo do negócios em torno de copiadoras e impressoras. Antes, a Xerox alugava essas máquinas. Agora, o cliente precisa comprá-las ou contratar um serviço de terceirização de impressão.

Essa segunda opção está redendo bons lucros para a Xerox e os concorrentes como IBM e Lexmark. É um novo mundo que movimenta bilhões de dólares. Só no Brasil, o setor chegará a R$ 650 milhões em 2004, com uma taxa de crescimento de 10% nos próximos anos. É um mercado no qual a Xerox está na dianteira. ?Já estávamos perto do cliente quando ele decidiu mudar o modelo de impressão?, afirma Washington Botelho, diretor-executivo de Operações da Xerox Brasil. Sozinha, a Xerox controla 63% do mercado brasileiro de impressão terceirizada, o correspondente a 35% da receita da subsidiária no País, com vendas de R$ 360 milhões por ano. São 4,6 bilhões de folhas anuais impressas pela empresa dentro dos escritórios dos 200 clientes no País (2,9 bilhões de unidades) ou nas fábricas de impressão da própria Xerox (1,8 bilhão). Uma delas, em São Paulo, imprime por mês 180 milhões de documentos.

Parte desse volume acontece graças à Seguradora Sul América, que transferiu para a Xerox a impressão dos documentos enviados para os clientes em todo o País. ?É três vezes mais barato do que o nosso modelo anterior?, afirma Luís Furtado, vice-presidente de Tecnologia da Sul América. A companhia optou pela terceirização para reduzir a demanda sobre o departamento de tecnologia. ?Agora temos mais tempo para nos concentrar em projetos de maior valor agregado para o nosso negócio?, diz Furtado. Tempo para a Sul América. Lucro para a Xerox.

R$ 650 milhões será a receita do mercado brasileiro de serviços de
impressão terceirizada em 2004. A taxa de crescimento é de 10% ao ano