ESG. Sigla para os termos em inglês Environmental, Social e Governance, ou Ambiental, Social e Governança, em português. Acostume-se com essas letras. Elas estarão cada vez mais presentes nas finanças e nos investimentos. O que era definido como “responsabilidade social” nos anos 1990 e “sustentabilidade” na primeira década deste milênio condensou-se nessa nova sigla. Mas não é apenas uma mudança de termos. O que era visto como um nicho, algo adequado para militantes ambientalistas, está se tornando um novo padrão para as finanças, diante do avanço dos problemas ambientais e do crescimento das preocupações com o futuro.

Banqueiros são pragmáticos e pouco propensos a modismos. Por isso, é preciso prestar atenção quando até mesmo a tradicional operação de pegar recursos dos investidores começa a seguir esses critérios. O BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, resolveu ajustar seu foco na hora de captar dinheiro. Anunciou, no dia 8 de janeiro, a captação de US$ 500 milhões em um bônus verde, ou green bond, com vencimento em janeiro de 2026. Apesar de o montante não ser dos maiores, o custo do dinheiro chama a atenção. A taxa de juros é fixa em 2,75% ao ano, o menor custo entre instituições financeiras brasileiras em captações realizadas em dólar desde 2003. As notas destinam-se a investidores institucionais qualificados e serão listadas em Luxemburgo. Os recursos vão financiar projetos verdes ou sociais.

Segundo o CFO do BTG Pactual, João Dantas, a sociedade mudou. Por isso, a partir de agora, o banco agora vai canalizar os recursos para beneficiar empresas que tenham uma agenda voltada para reduzir os impactos ambientais gerados por sua atividade. “O mundo está mais consciente da importância do meio ambiente. Só vamos direcionar os recursos de quem se preocupa com este ponto para empresas que têm maior controle”, disse ele. O executivo acrescentou que isso deverá gerar um efeito cascata em todo o setor financeiro e empresarial, uma vez que as empresas devem se ajustar ambientalmente para conseguir obter mais crédito junto ao setor financeiro.

De acordo com Dantas, 10% da carteira corporativa do BTG Pactual já está enquadrada dentro dos critérios de sustentabilidade. “E esse percentual deve crescer mais que os de outras atividades, uma vez que a tendência será cada vez mais seguida nos próximos anos.” Segundo o executivo, por parte das empresas essa também tem sido uma preocupação crescente. “Muitas estão dispostas a controlar melhor os impactos ambientais gerados e têm trabalhado para ganhar eficiência nesse sentido”, afirmou. “Quem não fizer isso ficará cada vez mais fora do cenário dos investimentos.”

A captação se soma às demais iniciativas do banco em sustentabilidade, investimento de impacto e ESG, tal como a adesão, a partir de janeiro de 2021, ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que reúne 39 empresas listadas na bolsa com melhor desempenho em sustentabilidade. Os papéis vencem em janeiro de 2026. Outro a testar o mercado foi o Itaú, que emitiu US$ 500 milhões em bônus subordinados no mercado internacional, com prazo de dez anos.

Um dos primeiros a levantar a bandeira da sustentabilidade na hora de conceder empréstimos há 21 anos, o Santander aposta que esse caminho é sem volta, tanto para o setor financeiro como para as empresas que buscam crédito. Segundo a analista de ESG do banco, Maria Paula Cantusio, globalmente, muitos fundos já incorporaram os conceitos da governança socioambiental. “Já se estima que globalmente 30% deles já tenham essas regras, sendo que no Brasil a Anbima estima que só 0,12% estejam nesse escopo”, disse ela. Mesmo assim, Cantusio afirmou acreditar que em cinco anos as ferramentas de análise ESG vão ganhar importância e se tornar o padrão do mercado, com a fatia dos recursos chegando a 10%.

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“Ao adotar uma agenda ESG, a empresa passa a mapear melhor os riscos e se torna mais resiliente para enfrentar os solavancos do mercado, tornando-se mais rentável no longo prazo” Marcelo Cabral, da gestora Neo.

Segundo a especialista, havia dúvidas se essa tendência sobreviveria a grandes choques econômicos, porém, a pandemia veio e só reforçou as preocupações sobre preservação do meio ambiente. Assim, empresas que tenham foco na sustentabilidade e mitigação de riscos terão mais espaço na hora de obter crédito dos bancos. Segundo a superintendente de negócios sustentáveis do Santander, Carolina Learth, o banco sempre apostou nessa tendência. “Ao longo dos últimos 21 anos aprendemos muito sobre responsabilidade socioambiental e hoje vemos uma demanda cada vez maior, tanto por parte dos investidores como de quem precisa de crédito para tocar projetos sustentáveis”, disse a executiva.

Em 2020, o Santander aplicou R$ 31 bilhões em financiamentos verdes e vem aprimorando os conceitos que são aplicados desde agricultura sustentável até produção mais limpa nas indústrias. No ano passado, cerca de R$ 1 bilhão foi para a linha ESG Linked Loan, com nove operações realizadas. A previsão para 2021 é chegar a R$ 5 bilhões. “E percebemos que não se trata apenas de grandes empresas, que tradicionalmente tem recursos para investir em boas práticas e fazer inventários, mas que isso está chegando ao chamado middle market também”, disse Learth. Isso inclui uma cooperativa que decidiu recuperar a nascente de um rio no interior do Brasil até uma indústria de alimentos que se comprometeu em reduzir o volume de plástico nas embalagens dos seus produtos. “Agora se trata da contribuição da empresa para a sociedade e vem muito por causa também da exigência dos consumidores, que pressionam por maior responsabilidade das companhias. Por tudo isso, nossas expectativas são as melhores possíveis para esse mercado.”

INVESTIMENTOS Além da concessão de crédito, a influência da agenda ESG sobre a gestão de recursos também vem crescendo. Um bom exemplo é o da gestora de recursos independente Neo. Fundada em 2003 e com R$ 4,7 bilhões sob gestão, ela é uma das casas independentes mais tradicionais do mercado. E a sigla ESG está no topo da agenda. Segundo Marcelo Cabral, principal executivo da Neo, a atenção a esse item é antiga, em especial com relação à governança das empresas em que a gestora investia. Agora, o conceito se ampliou. “As novas gerações cobram isso, portanto implementar uma política ESG estruturada facilita tudo, desde a captação de recursos até o recrutamento das melhores pessoas”, disse Cabral.

Segundo o executivo, isso vai além do perfil de negócios. Durante os anos 1990, era possível comprovar empiricamente que as empresas sustentáveis eram mais lucrativas do que a média. No entanto, não havia uma explicação clara para isso. Agora existe, afirmou Cabral. “Ao adotar uma agenda ESG, a empresa passa a mapear melhor os riscos e se torna mais resiliente para enfrentar os solavancos do mercado, tornando-se mais rentável no longo prazo”, disse ele.