Após superar os riscos de um iminente calote da Grécia e da vitória do Brexit, a União Europeia se encontra diante de um novo obstáculo, com potencial de abalar o humor dos mercados globais. Terceira maior economia do bloco, dona de um PIB de US$ 1, 9 trilhão, a Itália está sem governo definitivo há quase três meses, com a recusa do presidente, Sergio Mattarella, em aceitar o gabinete proposto pelos ganhadores das eleições gerais, em março, a Liga do Norte e o Movimento 5 Estrelas (M-5), de perfil populista. O impasse gerou desconfiança generalizada de investidores. Na terça-feira 29, o principal índice da bolsa de Milão caiu 4,83% e o risco dos títulos italianos chegou a seu maior nível em quatro anos, derrubando outros mercados na região.

Na Itália, o presidente supervisiona a formação de um governo, encabeçado por um primeiro-ministro, aceitando ou não os nomes propostos pelos partidos vencedores do voto popular. Os ganhadores, a Liga do Norte e o M-5, sustentam um discurso nacionalista e propõem medidas como o aumento de gastos públicos, o fim de políticas pró-Europa e um afastamento da influência alemã. Para o cargo de primeiro-ministro, eles indicaram Giuseppe Conte, um professor de economia sem experiência política. O economista anti-euro, Paolo Savona, foi o nome escolhido para o Ministério da Economia. Com uma dívida de 130% do PIB, o país é visto como de maior risco do que outras economias do bloco, como a França.

Ao negar a formação do governo, Mattarella apontou o ex-economista do FMI, Carlo Cottarelli, como primeiro-ministro temporário, acirrando ainda mais os ânimos (leia frases acima). Uma solução seria uma nova eleição no segundo semestre. Os dois partidos vencedores, porém, continuariam como vitoriosos. Na prática, o pleito poderia acabar se tornando um referendo sobre a permanência do país na União Europeia, o que criaria um precedente perigoso para a coesão do bloco, assim como nos episódios grego e britânico. Para os analistas, os mercados europeus possuem uma exposição “automática” à Itália. Há ainda riscos para outras regiões. “Bancos fora da zona do euro têm risco menor, mas somente até que a situação eventualmente se transforme numa crise na qual a Itália não consiga pagar a dívida”, afirma a Capital Economics.