22/12/2021 - 3:15
Quando foi a Portugal receber o prêmio de Mulher Mais Disruptiva do Mundo, concedido pela Women in Tech Global Awards, em novembro, Nina Silva levou na bagagem toda uma carga de desafios. Fundadora e líder do Movimento Black Money e o D’Black Bank, Nina é especialista em tecnologia da informação e foi eleita Empreendedora do Ano da DINHEIRO em Diversidade. Desde que entrou no mercado de trabalho, há 20 anos, sentiu todo o peso de estar num mundo masculino que não estava acostumado a ver mulheres, muito menos pretas, em uma empresa de tecnologia.
“Estar ali foi uma grande responsabilidade, além da representatividade”, disse ela. Ser reconhecida pela inovação ajudou a abrir caminhos para que outras mulheres e afro-brasileiros de todos os gêneros pudessem passar. “Mas precisamos ter outras ‘Ninas’ além de mim”. Para ela, quando se fala do setor de tecnologia se fala sobre futuro, sonhos, realizações e esperança. E é nesse lugar que ela quis deixar sua marca. Com um toque que não é padrão no mercado corporativo. “O futuro precisa ser diverso e, a partir da tecnologia e da nossa realização, será possível para muitas pessoas.”
Há quatro anos Nina fundou o Movimento Black Money junto de Alan Soares para apoiar empreendedores pretos em seus negócios. A base do trabalho é não apenas fomentar o empreendedorismo, mas também construir a identidade e a mentalidade de inovação dentro de um ecossistema afroempreendedor. “Queremos estimular o espírito inovador dos jovens pretos para a criação de diferenciais competitivos no mercado.”
BANCO O Movimento Black Money promove o associativismo entre empreendedores e comunidade preta a fim de fortalecer o afroconsumo. Uma das principais iniciativas foi a criação do Mercado Black Money, um marketplace do qual participam cerca de 1,8 mil lojistas, estimulando o consumo de produtos e serviços entre a comunidade negra para seu desenvolvimento econômico. O Movimento Black Money se desdobrou e virou um banco digital, o D´Black Money, que oferece crédito bem como promove ações educacionais para que essa parcela da população, que é a maioria entre os brasileiros, tenha melhores condições de vida a partir da autonomia financeira.
Nina acredita que sua obstinação nessa luta foi exatamente o que marcou sua trajetória. “Minha busca incansável por autodesenvolvimento foi o maior desafio”, disse. “Sempre tive muita ciência de que eu teria e tenho que estar atualizada. Isso requer muito foco e uma trilha de encaminhamento de objetivos.” Entretanto, foi exatamente por isso que ela chegou a um limite perigoso. Perseguir esses desafios com tanto afinco para mostrar a todos sua competência até criou um diferencial e um parâmetro comparativo, mas cobrou seu preço. “Cheguei à exaustão numa crise de burnout porque como mulher e preta tinha de provar mais do que qualquer um que eu merecia estar onde estava”, disse.
A maior dificuldade é que dentro do contexto de tecnologia, em que tudo fica obsoleto da noite para o dia, os desafios são ainda maiores. “E as pessoas pretas e mulheres precisam se autoafirmar e justificar suas presenças o tempo todo, mostrando maiores resultados.” Segundo ela, quanto mais autonomia e influência, mais a pessoa tem de lidar com aqueles que tratam e ditam poder nas posições mais altas. “Chegar a esse ponto sem meus pares, sem meus iguais, era sempre um desafio. E esquecer de onde eu vim nunca foi negociável. Por isso ser premiada agora entre 1 mil nomeadas de 100 países concorrentes foi uma grande vitória”, afirmou.
Segundo ela, o Movimento Black Money é baseado na filosofia Pan-Africanista Garveista, ideologia que considera a união dos africanos de todos os continentes na busca de soluções para problemas sociais e o preconceito racial. Nina conta que o Pan-Africanismo foi idealizado por Edward Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey. “É um movimento que defende os direitos do povo preto em caráter social, filosófico e político. É necessário deixar mostrar que, cada vítima de racismo, deve lutar, falar e agir de maneira a ajudar a eliminar o racismo e a estabelecer a justiça”, afirmou.
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