Uma movimentação insólita alterou a rotina dos moradores do bairro do Bonsucesso, em Guarulhos (SP), nos últimos meses. A chegada da maior e mais moderna loja da rede de materiais de construção Joli, inaugurada em 3 de agosto, mexeu com os moradores da região. Em julho, a empresa chegou a receber mais de 6 mil currículos por dia para as 150 vagas de emprego colocadas à disposição no local. O varejo de materiais de construção é um dos setores da economia que já vislumbra a retomada do consumo. Segundo dados do IBGE, de janeiro a junho deste ano o comércio varejista do segmento teve uma alta tímida, porém importante, de 3,8% nas vendas em relação ao mesmo período de 2018. “O mundo da reforma está muito ligado à taxa de desemprego”, diz Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). “Mas a verdade é que quando o setor da construção civil vai mal, o mercado da reforma vai bem. Vamos comemorar o terceiro ano consecutivo de crescimento nas vendas”. Para 2019, a Anamaco projeta um avanço de 8,5% no faturamento do segmento.

De olho na demanda ainda reprimida desse mercado, a Joli resolveu voltar a investir. A rede fundada em 1979 pelo empresário Rafael Roberto Lopes inaugurou recentemente seu 18º ponto de venda. A loja de Bonsucesso, em Guarulhos, tem área de 4 mil m² e 30 mil itens expostos. Parte considerável é de novos produtos, que não eram vendidos em outras unidades. “Nós acrescentamos 6 mil itens ao nosso portfólio. Boa parte é de utilidades domésticas”, diz Rafael Lopes Filho, vice-presidente e herdeiro da Joli. “É um segmento está se tornando cada vez mais relevante para o faturamento da empresa. Não queremos ser uma Tok&Stok, mas atender os clientes que querem deixar a casa mais bonita e aconchegante”, complementa. Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a diversificação do portfólio é uma aposta positiva para a empresa. “Os players desse setor estão investindo mais em reforma e decoração. São produtos que não trazem tanto volume como os itens de construção, mas eles são importantes para trazer diferenciação e margem”, afirma Terra.

O aporte realizado para a nova operação foi de R$ 9 milhões. Com a unidade, a empresa pretende alcançar um faturamento de R$ 400 milhões este ano, 15% a mais que a receita da temporada anterior. Em 2020, a previsão da rede é inaugurar três unidades em São Paulo. Mapear uma expansão para outras regiões não é uma opção analisada pela Joli no momento. Para marcar presença no imaginário do consumidor, a empresa tem investido em ações de marketing. Por mês, o aporte médio é de R$ 400 mil. Nessa linha, a Joli firmou um contrato de patrocínio com o Corinthians, no início deste ano, que vai até o fim de 2020. A marca já havia estampado as camisas do rival São Paulo.

Num mercado pulverizado, além da diversificação no portfólio de produtos, também é importante investir em tecnologia. Desde 2015, a rede vem digitalizando processos de gestão e atendimento ao consumidor. Mas a transformação ainda é silenciosa. Diferentemente das rivais Leroy Merlin, Telhanorte e Sodimac, a empresa ainda não oferece opções de compra por meio de e-commerce ou aplicativos móveis. Segundo Lopes Filho, o processo de transformação digital ganhará musculatura em 2020. “O grande desafio para as redes desse mercado será encontrar um meio-termo que funcione bem para todos os tipos de consumidores”, diz Conz, da Anamaco. Se os recentes cortes nas taxas de juros vierem acompanhados de uma retomada do nível de emprego, esse mercado tem tudo para prosperar.