A eleição mais incerta desde a redemocratização não mexe apenas com o humor dos brasileiros. Também provoca solavancos no mercado financeiro, em especial na taxa de câmbio. Em agosto, até a quarta-feira 29, o dólar subiu 10,7%. No ano, a alta é de 24,8%. Na semana passada, a taxa chegou a R$ 4,14, maior nível desde janeiro de 2016. Um levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que representa os gestores de fundos, mostra que essa volatilidade é exagerada mesmo em tempos pré-eleição. Entre junho e agosto, o dólar subiu 6,8%, maior alta dos três últimos pleitos. (observe o quadro ao final da reportagem).

Em 2014, quando a petista Dilma Rousseff se reelegeu, derrotando o tucano Aécio Neves, o dólar subiu 2,2%. Em 2010, quando Dilma derrotou José Serra (PSDB), a oscilação foi negativa em 2,6%. Na eleição anterior, quando Luiz Inácio Lula da Silva derrotou Geraldo Alckmin, houve queda de 0,8%. O que muda, agora, é a indefinição do cenário. “A fragmentação política é elevada, fica difícil saber que candidatos chegarão ao segundo turno e é quase impossível saber quem vai ganhar a eleição”, diz Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central (BC) e atual diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Carlos Langoni, economista e ex-presidente do BC: “O mercado está meio órfão de candidato” (Crédito:Simone Marinho/Agência O Globo)

A indefinição leva os investidores a comprar dólares para proteger o patrimônio. “Há algumas semanas o mercado se animou com a possibilidade de vitória de um candidato reformista, mas, recentemente, essa confiança se esvaiu”, diz Felipe Bevilacqua, analista-chefe da casa independente de análise Levante. Ele não cita nomes, mas o preferido do mercado é Geraldo Alckmin (PSDB). No fim de julho, o tucano conseguiu apoio dos partidos de centro e garantiu mais tempo de televisão e, eventualmente, mais apoio do Congresso. Mesmo assim, Alckmin não disparou nas pesquisas e permanece com mirrados 6% das intenções de voto, segundo pesquisa do Datafolha de 22 de agosto. Isso aprofundou a desvalorização do real. “O mercado está meio órfão de candidato”, afirma Langoni.

Na avaliação do estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, os cinco principais candidatos podem chegar no segundo turno. “O mercado está exagerando ao precificar, agora, um resultado adverso nas eleições”, diz. Para Rostagno, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) têm os mesmos 30% de chance de ganhar a eleição. Em seguida vem Alckmin, com 25%, Marina Silva (Rede) com 10% e Ciro Gomes (PDT) com 5%. Para prever o comportamento do dólar após a divulgação do resultado das urnas, Rostagno traça três cenários.

Felipe Bevilacqua, da Levante: a confiança na vitória de um candidato alinhado com as demandas do mercado se esvaiu (Crédito:Divulgação)

Se o vencedor for alguém alinhado às propostas de reforma, e que também tenha apoio do Congresso, o dólar pode encerrar cotado a R$ 3,65 em 2018. Se o vitorioso for reformista, mas não tiver apoio do Legislativo, o câmbio fecha o ano a R$ 4,10. A eleição de um político pouco comprometido com as reformas é o pior cenário para o mercado. Nesse caso, a taxa pode chegar a R$ 4,40 antes de 2019. Rostagno também não cita nomes, mas, pelo consenso do mercado, o primeiro cenário representa a vitória de Alckmin, o segundo é a eleição de Marina ou de Bolsonaro, e o terceiro cenário é a consagração de Haddad ou de Ciro.

Parte da alta do dólar é também importada. Decorre da guerra comercial entre China e Estados Unidos e da alta dos juros americanos. “Esperamos mais duas elevações de juros nos Estados Unidos, uma em setembro e outra em dezembro”, diz Rostagno. No entanto, os economistas avaliam que essas questões são secundárias. “No ano, o dólar sobe 24,8% diante do real, e esse percentual só é superado pelo da lira turca e pelo do peso argentino”, diz Langoni. “Isso mostra que o maior impacto é político e a volatilidade vai continuar até o segundo turno.”