O dólar superou a casa dos R$ 5,70 no final do ano de 2021. Mas, com aumento do fluxo de capital de investidores estrangeiros, interessados nos altos juros do mercado brasileiro, o preço da moeda norte-americana recuou desde o início deste ano. Na quarta-feira (23), o dólar era cotado a R$ 5,003, o menor patamar desde 30 de junho de 2021 e uma queda mais de 10% em dois meses.

A alegria durou pouco. Assim que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu invadir a Ucrânia, na quinta-feira (24), o alívio da pressão cambial foi suspenso. Isso porque o mercado cambial é composto por um conjunto de fatores externos e internos.

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Segundo o CEO da corretora BGC Liquidez, Ermínio Lucci, com a taxa básica de juros rompendo a barreira dos 11%, aumentou muito a procura por papéis de renda fixa, especialmente os indexados à Selic. Eles proporcionam ganhos maiores do que se poderia obter no mercado norte-americano, por exemplo.

Além disso, a valorização das commodities, que beneficia diretamente a balança comercial pelo Brasil ser um grande exportador, acrescentou outro fator importante nessa conta. Nos últimos 12 meses, o petróleo teve alta de 75,8% nos mercados internacionais. O preço do milho subiu 57,5%, da soja 39,1%, e do minério de ferro, 38,7%.

“Com a guerra na Ucrânia, os preços de comodities como energia, metais e trigo devem voltar a subir. Se o conflito se prolongar, a inflação global irá pressionar ainda mais o ambiente econômico, demandando mais ajuda dos bancos centrais europeu e americano”, afirmou o especialista.

Para ele, o Banco Central respondeu rápido à inflação em 2021 e a diferença de juros de 11,5% do Brasil contra 1,95% dos Estados Unidos atrai o investidor pra cá. Não é à toa que o Brasil chegou a ser o país a registrar a maior queda do dólar em 2022 dentre 25 países, conforme levantamento feito pela empresa de informação financeira Economatica. “Além disso, bolsa estava muito barata em dólar, o que ajudou a elevar o fluxo de investidor estrangeiro na bolsa”, acrescenta Lucci.

Com a escalada da tensão geopolítica, no entanto, tudo muda e fica difícil prever qual caminho que o câmbio seguirá nos próximos meses. “A gente sabe quando começa uma guerra, mas não sabe como termina”, disse o CEO da subsidiaria da BGC Partners, uma das maiores do mundo, presentes em mais de 22 países. “Nesse contexto fica difícil fazer previsões. Hoje estamos num patamar mais razoável e a expectativa era ficar entre R$ 4,80 e R$ 5,20. Mas agora fica difícil prever muita coisa”.