Há poucos dias, os 1,2 mil funcionários da indústria de cosméticos Boticário foram convidados para um desfile de moda na sede da empresa, em São José dos Pinhais (PR). Na passarela montada pela companhia, modelos apresentavam a nova tendência mundial: uniformes de trabalho com design arrojado e cores modernas. Este é apenas um exemplo do que vem sendo chamado de moda corporativa. O movimento é crescente e passou a fazer parte do cenário de fábricas e escritórios desde que as empresas perceberam que o cuidado estético e o conforto nos uniformes são tão importantes quanto a funcionalidade ou segurança. ?Hoje, há a percepção de que a roupa de trabalho faz parte da imagem corporativa e, ao mesmo tempo, garante a auto-estima dos funcionários?, afirma Rasso von Reininghaus, diretor da Santista Têxtil. Maior fabricante de tecidos para uniforme do País, com 60% de mercado, a empresa vem registrando uma expansão anual de 10% nas vendas. A nova divisão responde por 20% dos R$ 750 milhões que o grupo fatura ao ano.

O segmento de roupas de trabalho, garante Reininghaus, está mudando radicalmente. Antes as companhias adotavam o mesmo tipo de roupa durante 20 anos. Hoje, há empresas que mudam o desenho das vestimentas de seus funcionários duas vezes por ano. É o caso das companhias aéreas. No catálogo da Santista consta nada menos que 250 tipos de uniformes: de bombeiro e soldado, passando por médico, operador de máquinas, dentista e secretária, todos com várias opções. Alguns nem parecem ser roupas de trabalho, e sim peças para um encontro social. A idéia da Santista é justamente esta. ?O que queremos é que os funcionários administrativos de uma empresa possam escolher diversas peças ao ir trabalhar, misturando uniformes com opções de seu guarda-roupa caseiro?, diz Reininghaus. Foi com essa idéia que a Santista lançou a linha corporativa que permite ao empregado vestir uma camisa com o logotipo de sua companhia, ao mesmo tempo que usa uma calça jeans. O filão é tão importante para a companhia que foi montada até mesmo uma equipe de 19 consultores de moda para orientar empresários ou diretores de departamentos na linha do produto. Há ainda a possibilidade de consultar o catálogo pela Internet e, num futuro muito próximo, montar um novo modelo pela rede.

O que impressiona nisso tudo é que a sofisticada estratégia da Santista foi montada apesar de ela não realizar o trabalho final de produção das roupas: ou seja, a tecelagem cria o protótipo de uniforme, mas o cliente tem de escolher a confecção que irá fabricar toda a encomenda. ?A opção é livre, mas sempre indicamos algumas das 80 indústrias que autorizamos finalizar o serviço com a nossa garantia?, afirma Reininghaus. A iniciativa de fazer todo esse trabalho de ponte entre clientes surgiu porque praticamente não há confecções no Brasil capazes de desenhar uniformes esteticamente bonitos. ?Nos Estados Unidos, há empresas especializadas, como a Cintas e a Aramark?, conta o executivo. ?Mas no Brasil os casos são raríssimos e chegamos à conclusão de que tínhamos de tomar a dianteira?. Investimentos em tecnologia, portanto, não faltam.

A maior parte dos R$ 75 milhões que a Santista destinará a novidades neste ano irá para a produção do jeans Denin, seu carro-chefe. Mas a ?coleção trabalhador? também tem sido contemplada. A companhia lançou em janeiro a linha Sempreigual Soft, que por dentro é de algodão, mas por fora tem revestimento de poliéster, a fim de evitar que a roupa amassasse. Companhias como a mineradora Belgo-Mineira e a siderúrgica Açominas já adotaram a novidade para vários de seus operários. Prova de que a palavra uniforme começa a deixar de ser uma espécie de sinônimo de massificação e falta de charme. n

Colaborou Danielle Aloe