Authentic Brands Group é uma verdadeira máquina de aquisições. A empresa fundada em 2010 tem mais de 50 marcas sob seu guarda-chuva, incluindo nomes importantes da moda, como Aéropostale, Brooks Brothers, Forever 21, Tapout e Volcom. É dona da revista Sports Illustrated e também cuida dos direitos de imagens de atletas e artistas como Elvis Presley, Marilyn Monroe, Muhammad Ali e Shaquille O’Neal. Há uma semana, fez mais uma compra importante: por US$ 2,5 bilhões assumiu o controle da Reebok, que havia sido comprada pela Adidas há 16 anos. “Estávamos de olho na Reebok há muitos anos. Não só ela tem um lugar especial em nossas mentes e corações, como tem uma distribuição global”, disse o CEO da Authentic Brands, Jamie Salter. E é com esse reforço em seu portfólio que o grupo prepara sua estreia na bolsa de valores americana em um dos IPOs mais aguardados do ano.

A empresa, que tem a gestora BlackRock como uma de suas maiores acionistas, afirmou que pretende captar US$ 100 milhões na operação, mas o número real pode ser muito maior e sua avaliação de mercado deve superar US$ 10 bilhões. As ações ainda não foram precificadas e a operação não tem uma data oficial, mas analistas do mercado acreditam que ela deve acontecer nos próximos meses.

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A Authentic Brands não é a única do mundo da moda a protocolar um IPO em 2021. Desde o início do ano, marcas tradicionais e novatas já abriram o capital. É o caso da inglesa Dr. Martens, fundada em 1947 e famosa pelos coturnos robustos; da plataforma alemã de e-commerce de artigos de luxo Mytheresa; das empresas de resale Poshmark Inc. e ThredUp; e da The Honest Co., empresa de moda, cosméticos e outros produtos fundada pela atriz Jessica Alba.

E tem mais. Outras já estão na fila para estrear na bolsa. A Ermenegildo Zegna já anunciou a fusão com uma Spac (as chamadas “companhias de cheque em branco”) para ser listada até o final do ano. A marca de roupas esportivas Fabletics, da também atriz Kate Hudson, é outra. A lista inclui ainda a plataforma de compra e aluguel de artigos de grife Rent the Runway e a marca de óculos Warby Parker.

O motivo para essa corrida em busca de capital na bolsa de valores está relacionado a um processo de transformação que já vinha acontecendo, mas que foi acelerado pela pandemia. “O barateamento de tecnologias, a capilarização da população de forma geral e uma geração que nasce conectada e que tem facilidade em consumir bens de consumo on-line aumentam muito a demanda por novos serviços e produtos”, disse Caio Ramalho, diretor do Núcleo de Estudos em Startups, Inovação, Venture Capital e Private Equity da Fundação Getulio Vargas. A pandemia simplesmente apressou a aceitação dos e-commerces e da venda on-line — e a moda foi beneficiada pelo movimento.

Para se manter competitivo e crescer de forma acelerada, é preciso capital. E uma das melhores maneiras, no momento, é recorrer à bolsa. “Em um cenário com taxas de juros baixas e ativos de renda fixa que não dão mais retornos elevados, a diversificação do portfólio passa pela renda variável. O investidor acaba correndo riscos um pouco maiores”, afirmou Ramalho.

CENÁRIO BRASILEIRO A empolgação do mercado com a moda e o varejo também pode ser sentida no Brasil. Em outubro do ano passado, a marca de roupas esportivas Track & Field abriu o capital e levantou R$ 492 milhões. Com os recursos, vai abrir a maior quantidade de lojas da rede de sua história (o número exato, no entanto, ainda não foi divulgado). Pouco antes, o grupo Soma, dono da Animale, Farm e Maria Filó, entre outras, captou R$ 1,8 bilhão em seu IPO e comprou a Hering em uma operação avaliada em R$ 5,1 bilhões. A Arezzo, listada na B3 há mais tempo, acelerou sua estratégia de aquisições e comprou a Reserva e a plataforma de resale Troc no ano passado. Recentemente, incorporou também a marca de streetwear Baw Clothing.