Poucas horas antes de Gildo Zegna chegar ao shopping JK Iguatemi, em São Paulo, na tarde de terça-feira 20, o clima era de apreensão e correria na loja da Ermenegildo Zegna, marca de roupas masculinas criada por seu avô. Funcionários cuidavam tanto das bebidas para recepcioná-lo como do alinhamento das roupas nas prateleiras e nos cabides. O espaço precisava estar impecável. Ao entrar, o atual CEO do grupo italiano materializa a perfeição de sua grife vestindo um terno azul-marinho acetinado e alinhado ao seu corpo (a exclusiva foto desta reportagem foi feita no dia seguinte). Zegna olha para a prateleira recém-arrumada e escolhe um suéter azul de linho finíssimo para envolver o pescoço. Além da beleza, a peça é uma amostra da tecnologia desenvolvida nos centros de pesquisa da marca. Nas últimas três décadas, o fio utilizado foi reduzido de 27 para 17 micra (milésimos de milímetros), espessura menor que a de um fio de cabelo. “Estamos mostrando uma nova cara e modernizando a imagem da marca”, diz Zegna.

Os últimos dois anos marcam o retorno da Ermenegildo Zegna aos holofotes, o que coincide com a volta do estilista italiano Alessandro Sartori à direção criativa. Ele havia permanecido na companhia por 11 anos, até 2011, e foi o responsável por rejuvenescer as roupas da grife com a linha Z Zegna, em 2004. Nesse período, a marca foi destaque por cinco anos na semana de moda de Nova York. Agora, novamente com carta branca, Sartori desenhou sua mais recente coleção ao mesmo tempo em que a companhia trabalhava em uma nova estratégia. Essa combinação foi responsável pelo aumento na receita do grupo no ano passado. O faturamento aumentou 2,3%, para € 1,2 bilhão. “Os números nunca são bons o suficiente, mas tenho certeza que a nova estratégia nos ajudou”, diz Zegna. “O mundo da moda está se tornando mais casual, mais motivado por acessórios e mais personalizado. Alessandro Sartori é capaz de fazer essas mudanças muito bem”.

A nova roupagem: da esq. para a dir.: uma das lojas referência da Ermenegildo Zegna, em Milão na Itália, o diretor criativo da marca Alessandro Sartori, que voltou ao cargo em 2016, e o seu novo trabalho exposto na semana de moda de Milão neste ano

Boa parte da recuperação da marca se deve a China, país onde é líder de mercado no segmento de moda masculina de luxo. A introdução de tecnologias explica parte do sucesso da Ermenegildo Zegna na Ásia. Uma de suas criações é a Solar Jacket (jaqueta solar, em tradução literal), que transforma a luz do sol em energia renovável para carregar aparelhos eletrônicos. Outra: o Microsphere, tecido impermeável à água e imune a manchas de bebidas como café, vinho ou ketchup. “Nós investimos bastante na China e muita inovação vem desse mercado”, diz o CEO. Das 500 lojas da grife, 70 estão em território chinês. “Eles são muito visionários. Foram um dos primeiros a entrar na China, nos anos 1990, e essa hoje é a maior operação da Zegna”, diz Amnon Armoni, especialista em gestão estratégica de negócios da FAAP. O país é um dos mercados mais dinâmicos e afoitos por novidades. Para agradar, é preciso inovação.

A grife foi uma das primeiras marcas de luxo a apostar no mercado brasileiro. Em 1998, passou a vender suas roupas por meio de uma parceria com a Daslu. Três anos mais tarde, inaugurava sua primeira loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Essa unidade deve passar por uma reformulação no próximo ano, mas o CEO prefere manter segredo sobre as modificações. Atualmente, ele detém cinco lojas no País, sendo quatro em São Paulo e uma em Curitiba (PR). Há oito anos, no centenário da marca, Gildo Zegna esteve no Brasil e, em meio à festa, explicitou o desejo de abrir mais cinco lojas até 2013. Era um momento de exuberância do mercado nacional. Mas a crise econômica do País postergou os planos. “Abrimos muitas lojas e tivemos de consolidá-las. A crise chegou e tivemos de diminuir a nossa distribuição”, diz ele. “Hoje, estamos bem com as lojas que temos.”

Uma pesquisa realizada por John Ward, professor da universidade Kellogg, mostra que somente 34% das empresas familiares sobrevivem à segunda geração. Esse número cai para 17% com a chegada da terceira e para 4%, com a quarta. Acostumado à precisão da alta costura, Gildo Zegna não se dobra à chegada de gestores profissionais para comandar a marca criada por seu avô, em 1910. “A empresa deve se manter privada, sem IPO”, diz ele. “Não podemos dizer nunca, porém no momento essa não é nossa decisão.”