Lição fundamental no mundo corporativo, a construção de cultura de uma empresa começa pela definição de sua Missão. O motivo pelo qual a organização existe. Com ela, e sua Visão (o que ela quer ser, aonde quer chegar) e seus Valores temos a base para todo o restante. Do branding ao ESG. Tudo nasce na Missão. Isso colocado, vale lembrar que alguém em missão deveria ser sempre um escolástico ­— os primeiros a juntarem de maneira séria e expansiva o conhecimento técnico-científico à fé. Mais aristotelismo, menos platonismo. Mais de ciência, menos de religião. A curva inversa do Brasil de hoje. Pensando numa visão escolástica, qual seria a Missão do Congresso Brasileiro?

A mim, essa é a pergunta do milênio. Para que serve e para quem trabalha essa instituição que se parece a uma corja. E antes que um deputado imbecil se preocupe com o epíteto, já antecipo que uma das definições de corja é “grupo de indivíduos grosseiros”. O oposto da elegância. Respeite meu argumento. Afinal, gosto se discute. Apenas leva tempo (apud Umberto Eco + apud Filho-do-JB-tirando-foto-em-Dubai). Esse é o parlamentar brasileiro. Um tipo vulgar. Quando não ladrão. Ou envolvido com a Justiça de alguma forma. Com essa Persona, qual seria a Missão de nosso Congresso? Vou criar uma que se aplica muito ao senso comum. “Transformar qualquer projeto de país em causa própria. E escapar da lei.”

Isso explica as atitudes insanas e irresponsáveis tomadas por esse conjunto de medíocres. Num certo sentido, o parlamentar brasileiro atua num ambiente próximo à boa parte da academia brasileira. Vale mais conhecer o regimento interno (Eduardo Cunha, Renan Calheiros e tantos outros) do que ser um excelente parlamentar. No mundo acadêmico, muitas vezes vale mais conhecer o caminho das publicações em periódicos, dos congressos da patota, do que dar uma excelente aula ou levar inovação e conhecimento à universidade. Essa distorção é uma aberração missionária. Caso nossos políticos atuassem sob princípios da cultura organizacional, não estariam onde estão. Estariam demitidos.

Essa classe, e seus privilégios deprimentes, foi incapaz de conduzir reformas e destruir o lado arcaico do Estado brasileiro — que é a maior parte dele, aliás.

Mesmo com boa parte dos parlamentares assumindo em 2018. Ou seja, já catapultados pelas alianças com JB, o presidente mais funcionário público que este País já produziu. Havia espaço e margem para reformas que todo o setor produtivo clamava (e clama) necessárias. O que essa turma fez? Piorou tudo. Motivada e inspirada pela incompetência ou má-fé de JB e seus principais ministros, o da Economia à frente, mas os da Saúde igualmente patéticos. Quanto aos militares… Hummm… Reparem no quanto andam quietinhos, só guardando seus soldos de seis dígitos.

O problema dessa turma — e não que as cúpulas da Justiça e do MP sejam muito melhores — é não estar dimensionando o tamanho do estrago que provoca. Crescimento baixo, desemprego elevado, inflação alta e juro explodindo é combustível para convulsão. No caso brasileiro, ela não vem no formato de invadir Brasília. Vem na violência cotidiana. Seja a do aumento do crime comum, seja na violência de assistirmos impassíveis a mais e mais barracas nas principais cidades brasileiras, abrigando famílias que não têm onde morar e mal têm o que comer.

E nosso parlamento? Age como se não fosse problema das maluquices estúpidas e inconsequentes de um cara como Arthur Lira. Você apostaria seu salário na contratação dele para um cargo C Level por uma empresa séria, listada na B3, com políticas ESG? Pois é. Mas é o nome mais forte no Brasil de JB. Entendeu o tipo de branding que construímos? Nossa verdadeira reforma urgente é a política.

Mas ela só pode ser feita por políticos. Aí entram em cena a tal sociedade civil e o tal setor produtivo. Mas nunca haverá pressão suficiente para essa mudança enquanto não houver consenso de que com o padrão corja congressual que temos nada será feito. Esqueça algo chamado crescimento no curto ou médio prazo. O grosso da nossa classe política, em especial a safra 2018, nada vai fazer. A não ser piorar tudo. Muito. Ou cada um de nós tenta eliminar esse tipo de político ou estaremos eliminando a política. E o futuro.

Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.