Por que os milionários são milionários? Talvez porque eles não se comportem como milionários. Quer dizer, eles não fazem cruzeiros luxuosos de volta ao mundo, não gastam centenas de milhares de dólares em supermáquinas, não compram ternos Armani, nem sapatos Fendi e nem vivem em bairros cinematográficos. Pelo menos é isso o que mostra uma pesquisa realizada por Thomas J. Stanley, que estuda os afluentes dos Estados Unidos desde 1973. Autor de vários livros, ele disseca a mentalidade dos endinheirados na sua obra mais recente: The Millionaire Mind (em português, A Mente dos Milionários, cujos direitos de publicação no Brasil já foram comprados). Seu novo livro repete o sucesso do anterior, O Milionário Mora ao Lado, publicado no Brasil pela editora Manole, e já está na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. Stanley entrevistou 733 americanos com patrimônio líquido de US$ 1 milhão ou mais ? cerca de 4,9% da população do país ? e chegou a dados no mínimo curiosos. Os milionários estão muito mais preocupados em guardar dinheiro do que esbanjar com luxos. Na verdade, eles não precisam consumir para sentir que estão aproveitando a vida. Seus prazeres e satisfações estão ligados a família, amigos, religião, independência financeira, bem estar físico e, talvez, um pouco de golfe (45% dos milionários tinham dado suas tacadas no mês anterior ao da realização da pesquisa).

61%

não herdaram absolutamente nada

O perfil do milionário americano é dos mais convencionais: homens de, em média, 54 anos, casados há 28 e com três filhos. A renda anual é de, em média, US$ 436 mil ? apenas 20% ganham US$ 1 milhão ou mais ao ano. E sabem enxergar uma boa oportunidade. A maioria dos milionários (61%) mora em casas que valem mais de US$ 1 milhão, mas apenas 25% pagaram esse valor para morar bem (eles gastaram, em média, US$ 558.718). E quase todos preferiram comprar a casa pronta. O motivo não poderia ser mais prosaico: construir demora mais e… tempo é dinheiro. Exatamente pelo mesmo motivo é que eles fazem listas de compras antes de ir ao supermercado ou preferem mandar arrumar seus velhos sapatos do que procurar um par novo (confira os destaques). Têm um patrimônio médio de US$ 9,2 milhões, mas não gastam mais do que US$ 24 num corte de cabelo. Preferem investir no seu negócio. Cerca de um terço dos afortunados são empreendedores, apenas 16% são altos executivos, 10% são advogados e 9%, médicos. O outro terço é composto de aposentados, gerentes de nível médio, contadores, vendedores, professores, donas de casa, entre outros.

Eles dão muita importância ao trabalho, não há dúvida. São disciplinados e acreditam que a sorte só vem para aqueles que se esforçam muito. Mas não se consideram workaholics, gostam de passar muito tempo com amigos e família. ?Há uma correlação positiva entre as horas que gasto com a vida pessoal e o tamanho do meu patrimônio?, foi uma das afirmações mais ouvidas na pesquisa. E há uma boa razão para isso: nos momentos de lazer eles podem entrar em contato com eventuais clientes, pacientes, fornecedores ou bons amigos. Pode parecer ?conversa para boi dormir?, mas os milionários acreditam que as melhores coisas na vida são de graça: assistir ao jogo dos filhos na escola, visitar um museu ou jogar cartas com os amigos. ?O que custa muito menos do que uma viagem a um cassino?, explicam os endinheirados.

Mas afinal, se eles valorizam tanto a vida fora do trabalho, como ganham tanto dinheiro? Para eles, os fatores que melhor explicam seu sucesso financeiro são: honestidade e disciplina (57% dos entrevistados apontaram essas como as principais razões), lidar bem com as pessoas e ter um cônjuge companheiro estão em segundo e terceiro lugares entre os fatores de sucesso (com 56% e 49% de respostas). Explicações como gastar menos do que ganha ou ter bons consultores financeiros são bem menos comuns (14% e 11% dos milionários deram essas respostas, respectivamente). Habilidades sociais são mais valorizadas do que profundos conhecimentos financeiros. Até porque os milionários não foram, em sua maioria, alunos brilhantes. Os tempos de escola serviram muito mais para eles aprenderem algo sobre tenacidade, convivência e discernimento do que para se afundar nos livros e tirar as melhores notas. Eles não são os estudantes que fizeram os melhores MBAs e nem são PhDs. Mas isso não significa que eles não têm formação (90% dos milionários têm curso superior e 52%, algum diploma de pós-graduação).

49%

usam cupons de descontos ao fazer compras

Seu grande diferencial, portanto, é a capacidade de enxergar as oportunidades que os outros deixaram passar. Escolhem nichos certos. Como fazem isso? Muitos estudam o potencial de retorno de vários tipos de negócio antes de se decidir. Eles fazem muita lição de casa antes de investir. ?É fundamental escolher um ramo com o qual eu tenha afinidade?, dizem os afortunados. Vocação é a palavra mais usada por eles. Para escolher ou definir qual é a sua vocação, analisam em que tipo de trabalho vão usar suas habilidades e aptidões (81%), o que lhes pode fazer bem à auto-estima (62%) e o que vai permitir independência financeira (66%). E o que também faz toda a diferença: eles não têm medo de correr riscos. ?Os benefícios de ser financeiramente independente compensam os riscos associados à acumulação de riqueza?, acreditam os entrevistados. Mas, ao contrário da maioria das pessoas, eles acham muito mais arriscado ser empregado do que ser dono de seu próprio negócio. Por quê? Pois não dependem de uma única fonte de renda (salário no final do mês), têm a possibilidade de tomar decisões sobre todos os fatores de seu negócio e de fazer o que é melhor para eles, e não para seus patrões. E têm uma resposta para quem pergunta por que uns conseguem e outros não: ?Ao escolher um negócio, a maioria das pessoas não tem a menor idéia das reais probabilidades de sucesso. Lembre-se: não é uma questão de quanto você pesquisou ou por quanto tempo ? tem a ver com o que você pesquisou e como isso pode ser conduzido no mundo dos negócios?.