George Herbert foi um poeta e orador inglês do começo do século 17. A ele é creditada a frase “viver bem é a maior das vinganças”, que se tornou ditado popular em muitos países. Inspirada no que disse Herbert, a americana Marian Burros, colunista de comida do The New York Times há quase 40 anos, escreveu o livro Eating Well Is the Best Revenge (“Comer bem é a melhor vingança”). Nada mais apropriado. Com esse lema em mente, o site americano GoBankingRates, de educação financeira, listou os endereços com os pratos entre os mais caros do mundo. A seleção não passa pelo Brasil. Mas passa pelo imaginário de todo gourmand. Em tempo: nenhum preço a seguir inclui bebida, exceto quando indicado.

1. Sobremesa de US$ 14.500 (R$ 60.000)

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Passo 1: vá ao Sri Lanka, uma ilha ao sul da Índia. Do aeroporto, siga por duas horas e meia até o Fortress Resort and Spa, na cidade de Galle. Com dois dias de antecedência, você pode encomendar a sobremesa de US$ 14.500, nomeada “A Indulgência do Pescador de Palafitas da Fortaleza”. O tal pescador nas palafitas é uma reprodução em chocolate que homenageia o estilo de pesca da região. Trata-se de cassata italiana aromatizada com creme irlandês, compota de manga e romã, Zabaione feito de champanhe (Dom Pérignon) e uma folha de ouro comestível adornando tudo. O toque final é uma pedra de água marinha de 80 quilates. Supostamente, vêm dela os dígitos a mais por esse sorvete.

2. Pizza de US$ 9.200 (R$ 38.000)

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Renato Viola não vai te ludibriar.

O que ele oferece é a Louis XIII-The Very Expensive Pizza. A redonda de 20 cm será fatiada em oito pedaços e serve duas pessoas. Sai R$ 4.700 a fatia, ou R$ 1.900 por centímetro do diâmetro. A massa é feita com farinha orgânica certificada AIAB (Associazone Italiana per l’Agricoltura Biologica), sal rosa australiano River Murray e levedura natural. A cobertura é puro mar. Sobre nacos de muçarela de búfala, camadas de três tipos de caviar (o quase doce e que remete a noz Oscietra Royal Prestige, o bulboso Kaspia Oscietra Royal Classic, da costa iraniana, e o raro Beluga, cuja cor varia do cinza pérola ao cinza escuro). Depois dos caviares, é a vez de dois tipos de camarão (um do Mar Tirreno, de Acciaroli, o outro do mar Mar Adriático, o squilla mantis). Tudo finalizado com lagosta. Para a harmonização, duas bebidas. O raríssimo Cognac Rémy Martin Louis XIII, feito a partir de mais de 1.200 eaux-de-vie da região Grand Champagne e envelhecido até 100 anos em barris igualmente centenários, e o champanhe Krug Clos du Mesnil 1995. Onde fica? Na sua casa. Ou onde você quiser. Viola irá até seu endereço acompanhado de um chef e um sommelier que vão preparar a pizza na sua frente e servi-lo. Na Itália tudo sai por € 8.300. Achou caro? Bem, dá para rachar a conta em dois.

3. Burger de US$ 5.000 (R$ 20.600)

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E a gente achando aquele hambúrguer artesanal do bairro o melhor do mundo. Este aqui custa US$ 5.000 e leva carne wagyu, foie gras e trufas. É servido no restaurante Fleur, do Mandalay Bay Resort and Casino, em Las Vegas, pelo chef Hubert Keller. Mas vamos combinar: o que conta mesmo é a garrafa do Chateau Petrus 1995 que acompanha o sanduba. É só pedir pelo Fleur Burger 5000. Ah, vem umas batatinhas fritas junto.

4. Pizza com ouro: US$ 2.000 (R$ 8.200)

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Vem de Nova York a segunda pizza da lista. A 24K é feita com queijo Stilton (uma refinada variável inglesa do gorgonzola), caviar Oscietra, trufas e folhas de ouro. Daí seu nome, 24K. E seu preço: US$ 2.000. Ela é servida no Industry Kitchen, cozinha moderninha casual, na região de South Street Seaport, com belas vistas para o skyline do Brooklyn. Se quiser incrementar a pedida, adicione o caviar Almas, por US$ 700. Essa variedade é o Rolls Royce dos caviares e específica do raro esturjão albino, que vive mais de 100 anos. Os pedidos devem ser feitos com 24 horas de antecedência. Caso queira algo mais monetariamente palatável, a pizza Bianca (muçarela, pecorino e ricota) custa US$ 15. E sai na hora.

5. Frittata de US$ 2.000 (R$ 8.200)

Quebre uns ovos e a conta corrente junto nesta frittata do Norma’s, de Nova York. Feita com ovos (é óbvio) e ovas (não tão óbvio). No caso destas, do caviar da variedade Sevruga. Tem também nacos de lagosta. A versão com 10 onças de caviar (cerca de 280 g) custa US$ 2.000. A modalidade ‘estou-meio-sem-grana’ traz 1 onça e custa US$ 200.

6. Ibiza à mesa por cerca de US$ 1.800 (R$ 7.400)

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Quando a gente pensa em Ibiza+diversão, as orientações costumam ser verticais ou horizontais. Ninguém (quase) pensa na posição sentado. Pois o SubliMotion consegue essa proeza. O restaurante duas estrelas Michelin, do chef Paco Roncero, foi aberto no Hard Rock Hotel, há seis anos. A cozinha molecular é incrível. Mas incrível mesmo é jantar num mundo mágico. O ritual de servir-comer é acompanhado por um mix de ilusionismo, teatro, tecnologia (com uso de óculos de realidade virtual) e música de DJ profissional (Wally López) harmonizada a cada prato. Apenas uma mesa e 12 pessoas por noite. O trailer do website já dá pinta do que virá: comida em ambiente 4.0.

7. Sundae de US$ 1.000 (R$ 4.100)

 

Quando o prato mais caro do planeta é uma sobremesa de sorvete de US$ 14.500, pensar num sundae de US$ 1.000 parece pechincha. O Golden Opulance Sundae deve ser pedido com 48 horas de antecedência e faz parte do cardápio do Serendipity 3, em Nova York. A receita tem baunilha do Taiti, baunilha de Madagascar, chocolates especiais, trufas, frutas cristalizadas parisienses, folhas de ouro e o indefectível caviar, mas de um tipo que remete ao sabor adocicado. Será servido numa taça de cristal Baccarat que ficará para você depois da última colherada.

8. Jantar multissensorial a US$ 872 (R$ 3.600)

Paul Pairet é um chef francês estabelecido em Xangai. Seu Ultraviolet é o primeiro restaurante performático multissensorial do mundo. Nasceu dois anos antes do SubliMotion (item 6 desta lista). Ali, comer é sentir e vivenciar. Cada um dos 20 pratos terá uma ambientação e uma trilha sonora. Para sua versão fish-and-chips, a mesa terá decoração à inglesa e a trilha sonora será Beatles. Se pedir lagosta, o som e os vídeos, tomando conta de todas as paredes, serão do mar. São apenas dez comensais por noite. O princípio de Pairet é o de sua mãe: “Ela não me perguntava o que eu queria comer, nem quando. Apenas decidia. E eu comia a melhor comida da minha vida.”

9. Burger por US$ 777 (R$ 3.200)

Mais um burger. Mais uma vez, Las Vegas (a cidade também está no item 3).
O Kobe Beef and Maine Lobster Burger (apelidado no cardápio como 777) tem lagosta do Maine como diferencial — além de bife Kobe, pancetta, queijo de cabra, foie gras, rúcula e um balsâmico de 100 anos para regar a salada BLT (bacon-lettuce-tomato). Junto, segue uma garrafa de Dom Pérignon rosé. Aí, sim!

Está no menu da Burger Brasserie, no hotel Paris Las Vegas.

10. Sushi em NY a US$ 595 (R$ 2.400)

Esqueça qualquer coisa parecida a rodízio. Aqui, é degustação em alta voltagem.
Você comerá sushis (e variações autorais da culinária japonesa) por duas horas. Acredite: vai querer mais duas horas. Por US$ 595 (sem bebidas e taxas). As gorjetas são proibidas e consideradas até mesmo ofensivas. O menu muda sempre, mas entregue-se nas mãos (e no balcão) do chef Masayoshi Takayama.

11. Estrelado em Paris por US$ 536,63 (R$ 2.222)

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Paris, ah, Paris. A cidade tem dez restaurantes com as máximas 3 estrelas Michelin. Ops, não mais. Agora são nove, desde que no ano passado o L’Astrance perdeu uma. Antes, um disclaimer. Para os hipsters, estrelas Michelin valem nada — dá para entender, afinal, são lugares realmente caros, nos quais apenas a equipe de salão costuma ser bem maior do que o número de lugares disponíveis à mesa. São endereços únicos. O menu degustação Texturas, Cores e Sabores do Guy Savoy tem 13 pratos. Nem adianta descrevê-lo. Mas saiba que você irá da terra ao mar e ao ar. Pelo menos, na origem do que comerá. Eu fui (leia ao lado). O menu muda a cada temporada, a cada alimento em baixa ou em alta.

Minha Festa de Babette particular

Nem ficava onde fica hoje. Mas já ficava onde deveria ficar. Na eternidade. Jantar no Guy Savoy dura mais do que qualquer coisa em sua vida — menos sua vida. Dura mais do que empregos, viagens, melhores livros, melhores filmes e melhores músicas. Dura mais do que título mundial. Dura para sempre. Em abril de 2012, eu dei um pequeno passo para um homem e entrei na eternidade. Estava hospedado no Méridien, em frente ao Palais des Congres, e fui até o 18 Rue Troyon. O Guy Savoy ficava ali – hoje está num lugar bem mais suntuoso. De toda forma, já era um 3 estrelas. Cheguei (reserva feita dois meses antes) e fui recebido com a oferta de menus. O maior, na época, de 18 pratos. “Vai durar umas cinco horas, mas o senhor nem irá perceber”, disse quem me recebeu. Fui nesse. Fiquei ali quase seis horas. Nem percebi o tempo, é verdade. Mas a sensação até hoje é a de ter feito parte do filme A Festa de Babette. Se valeu? Vale ir para a Lua? (E.R.).