A empresa cearense M. Dias Branco está pronta para levar seus biscoitos a novos mercados. O plano está traçado e mira americanos e europeus. Hoje as exportações de seus produtos representam 2% da receita líquida, que registrou R$ 1,89 bilhão no segundo trimestre, alta de 22,2% sobre o mesmo período do ano passado. O crescimento do envio de produtos ao exterior aumentou 526% entre abril e junho deste ano. Até 2022, a meta é alcançar 5% com exportações, para, a partir daí, focar de vez na possibilidade de montar uma fábrica ou até mesmo a aquisição de uma companhia já consolidada no mercado internacional. “A gente começa a aumentar o foco na exportação para alcançar mais esses mercados”, disse o vice-presidente de Investimentos e Controladoria Gustavo Theodozio. “Temos grande capacidade para ser um importante player global nesse segmento.”

Até por causa da desvalorização do real frente ao dólar e da crise econômica global a partir da pandemia da Covid-19, o horizonte inicial é a América do Sul. Hoje, os produtos da M. Dias Branco estão em 37 países – em todos os continentes, exceto Oceania –, com maior volume na América Latina, nos EUA e na África. “Estávamos apenas recebendo pedidos e agora decidimos desbravar. Mudamos um pouco a lógica desse conceito”, afirmou o dirigente. Na prática, a companhia fundada em 1953 em Fortaleza por Francisco Ivens de Sá Dias Branco (que morreu em 2016), filho do padeiro português Manoel Dias Branco, não quer apenas enviar seus produtos, mas sim fincar bandeira em outros países. “Há grandes empresas na América Latina que podem ser parceiras de negócios. Depois o caminho natural é Estados Unidos e Europa.”

Com 19 marcas no portfólio, boa parte delas com presença regional, a companhia tem adotado a estratégia de nacionalizar cinco delas, incluindo as massas Vitarella, muito forte em Pernambuco, a Adria, mais em São Paulo, e a carioca Piraquê, adquirida pela M. Dias Branco em 2018. Se a tendência for montar fábrica fora do Brasil, possivelmente serão esses os produtos que, prioritariamente, passarão pelo processo de internacionalização da empresa. O vice-presidente reconheceu que já há, inclusive, conversas com bancos para discutir oportunidades que possam surgir no mercado. Embora não revele nomes, Theodozio garante que também há interesse na compra de empresas brasileiras do setor.

A confiança da direção da companhia do Ceará, que tem 15 fábricas, entre unidades de massas, biscoitos, margarinas e moinhos, e 17,5 mil funcionários, está no fato de a empresa ter hoje R$ 1,4 bilhão em caixa e uma alavancagem baixa, de 0,4x, o que significa bom fôlego financeiro para empenhar recursos para esse tipo de expansão. A aposta mais recente nesse sentido, a aquisição da carioca Piraquê em 2018, vem mostrando bons resultados para a companhia. Inicialmente, ela respondia por 7% da receita total. Hoje, chega a 10,3%. Para Theodozio, a avaliação que analistas de mercados chegaram a fazer, à época, de que a companhia do Ceará havia pagado caro pela Piraquê – R$ 1,55 bilhão – é equivocada. “Na conta, consideramos a possibilidade de sinergia com todos os departamentos, logística de distribuição e produção. Além disso, analisamos o potencial de crescimento, que já começa a se consolidar.”

Os números da companhia, justamente em um momento em que boa parte da indústria nacional sente o efeito da retração da economia, justificam, em parte, esse otimismo quanto ao crescimento no cenário de médio prazo. O lucro líquido saltou de R$ 100,6 milhões no segundo trimestre do ano passado para atuais R$ 152,4 milhões, alta de 51,5%. Quando analisado o semestre, o resultado é ainda melhor. Entre janeiro e junho deste ano, a alta na receita foi de 23,2% e, no lucro líquido, 83,7%. A M. Dias Branco fechou 2019 com market share de 32% em biscoitos. Após seis meses, o percentual subiu para 34,5%. No caso de massas, saltou de 32,2% para 34,9%.

QUATRO VEZES ACIMA DO MERCADO O crescimento no segundo trimestre foi ainda mais expressivo se comparado aos números do setor. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), a indústria registrou alta de 4,9% em faturamento no primeiro quadrimestre de 2020, com um total de R$ 9,6 bilhões no período. A M. Dias Branco cresceu mais de quatro vezes a média do segmento.

O fermento do setor de massas e biscoitos. (Crédito:Divulgação)

O analista de investimentos da Planner Corretora, Victor Martins, disse que o plano estratégico da companhia vem se refletindo no resultado financeiro. Para ele, o aumento do consumo por conta do isolamento social pode ter contribuído para o aumento da receita. “Mas a empresa vem cumprindo o papel de redução de custos e de ganhos em sinergia com as últimas aquisições, como a da Piraquê.”

As ações da M. Dias Branco na B3 fecharam na terça-feira (18) a R$ 37,57. No primeiro pregão do ano, no dia 2 de janeiro, foi negociada a R$ 39,30. Em março, no pior momento da Bolsa este ano, foi vendida a R$ 26,78 (no dia 18). Segundo o analista, a recomendação é de compra, com preço alvo de R$ 45 a ação. A performance saudável em meio à pandemia reflete na manutenção dos investimentos, da ordem de R$ 250 milhões. “A tendência é de que mesmo no cenário pós-Covid, a M. Dias Branco continue com crescimento forte”, disse Theodozio. Se, em casa, o cenário é de otimismo, o caminho do Ceará para o mundo começa a ficar, de fato, cada vez mais curto.