O luxuoso escritório ocupado pela BR Partners, na zona sul de São Paulo, logo terá de ser ampliado. A equipe, hoje ao redor de 65 pessoas, deverá mais que dobrar de tamanho ao longo dos próximos 18 meses. Depois de dois anos atuando como uma empresa não financeira focada na estruturação de fusões e aquisições, a companhia vai galgar um novo patamar. A ordem para os sócios é acelerar o passo. No início de novembro, a companhia comprou o banco Porto Seguro, que estava inativo, e vai passar a disputar negócios no concorrido mercado de banco de investimentos. Nos planos está também a abertura de uma corretora de valores. “Vamos aproveitar nossa rede de relacionamentos para ganhar espaço nesse segmento de mercado”, diz Ricardo Fleury Lacerda, um dos sócios-fundadores da empresa – e o mais novo banqueiro na praça. Para os sócios, a decisão de comprar um banco explica-se pela possibilidade de atuar em um nível mais amplo. Atualmente, a BR Partners opera na estruturação de negócios – compra e venda de participações de empresas. Mesmo tendo sido fundada há pouco mais de dois anos, já intermediou 19 transações – entre elas duas aquisições realizadas pela Hypermarcas e a venda da construtora Agre para a PDG. 

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Tropa de elite: (da esq. para a dir.) Jairo Loureiro, Otávio Guazzelli, Andrea Pinheiro, Ricardo Lacerda e
Renato Naigeborin, alguns dos principais sócios da BR Partners

Mesmo assim, os sócios querem avançar para terrenos ainda inexplorados. “Também vamos estruturar operações de mercado de capitais, com venda de ações e captação de recursos”, diz Andrea Pinheiro, outra sócia- fundadora. “Para isso, precisávamos ter o status de um banco.” A lista de negócios estruturada pela empresa é relevante. Apenas as operações que tiveram seus valores divulgados movimentaram US$ 9,7 bilhões e se distribuem por vários setores da economia. “Temos uma boa rede de clientes nos setores de varejo e saúde, além do agronegócio”, diz Andrea. Também ajuda o fato de que os investidores da BR Partners sejam alguns dos nomes mais conhecidos do panorama corporativo brasileiro, como João Alves de Queiroz Filho, controlador da Hypermarcas, e os grupos Verdi e Zogbi, tradicionais no mercado financeiro, além da família Feffer, do grupo Suzano. Mesmo com essas credenciais, porém, os sócios da BR Partners estão marchando em um terreno bem mais inóspito. Bancos de investimento não podem contar apenas com a experiência, a agenda telefônica e as conexões de seus executivos. É preciso ter (muito) capital e capacidade de enfrentar um ambiente regulatório cada vez mais estrito, em que os bancos centrais e as autoridades de mercado vêm exercendo um controle rígido.  

A decisão de comprar um banco inoperante em vez de tentar começar do zero é um bom exemplo disso. O Banco Central tem estimulado os interessados em iniciar atividades bancárias a usar empresas já existentes, para com isso resolver os problemas do sistema (veja reportagemaqui). Nesse cenário acidentado, qual o trunfo da BR Partners? Os sócios não confirmam, mas quem conhece bem os meandros dos bancos de investimento avalia que uma de suas principais vantagens é, justamente, o porte menor e a independência das grandes bandeiras. Por não ter vínculos com os gigantes brasileiros e com os grandes bancos de investimento internacionais que atuam no Brasil, a BR Partners evita entraves comuns ao setor. Por exemplo, os conflitos de interesse com áreas muito rentáveis dos bancos de atacado, como os empréstimos para as empresas – um banco ganha muito mais dinheiro concedendo crédito do que montando uma emissão de debêntures, por exemplo. “Não pretendemos atuar no crédito, mesmo que seja de atacado”, diz Lacerda. “Nosso foco será sempre o mercado de capitais.”

 

Os fundadores da BR Partners têm uma longa trajetória no mercado financeiro. Lacerda e Andrea conheceram-se em Nova York nos anos 1990, enquanto ambos cursavam MBAs em diferentes universidades americanas. Paulista de Rio Preto, Lacerda passou pelo Chase Manhattan, que mais tarde se fundiria com o J.P. Morgan. Depois foi para a Goldman Sachs, cuja filial brasileira presidiria até assumir o banco de investimentos do Citibank no Brasil. Já Andrea integra a terceira geração de uma família de banqueiros cearenses. O banco BMC foi fundado no Ceará nos anos 1930, e se transferiu para São Paulo na década de 1990. Em 2007, foi vendido para o Bradesco por R$ 850 milhões. O bancão de Osasco usou o conhecimento do BMC para estruturar sua área de empréstimos consignados, cuja direção ficaria a cargo da executiva durante dois anos. “Saí para participar da estruturação da BR Partners”, diz Andrea. “O Ricardo me convidou para trabalhar com ele durante um almoço e  aceitei antes de perguntar qual era o negócio.” Gentilezas à parte, os sócios sabem que terão uma marcha forçada pela frente se quiserem conquistar um espaço no mercado.

 

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