O ministro da Economia, Paulo Guedes, se esforça nos últimos dias para exibir algum sinal de disciplina orçamentária nas contas públicas. O desafio número um nesse sentido é o de segurar o apetite do presidente Bolsonaro por mais gastos em plena temporada de campanha eleitoral. Guedes quer evitar reajustes de servidores e policiais, prometidos pelo mandatário. Também pretende desaconselhar os tais vouchers de combustíveis aos caminhoneiros, além de diminuir os incentivos fiscais, os subsídios a bancos públicos, as desonerações e renúncias. Para tanto, sabe o “Posto Ipiranga”, ele terá de contar com o apoio e entendimento favorável do próprio Congresso Nacional. Naquela casa, desde o início, o ministro não angariou muitos aliados. Ao contrário. Sua relação, especialmente com os presidentes tanto da Câmara como do Senado são, no mínimo, distantes. Para mudar essa realidade, ele vem montando um “verdadeiro aparato de guerra”, nas palavras de um de seus colaboradores, e planeja conquistar o aval de outros ministros para blindar o orçamento. O quadro não é dos mais fáceis. O próprio parlamento — que também corrobora o intento do presidente/candidato no afã por mais despesas — acaba de aprovar a prorrogação até 2023 da medida que retira das empresas de 17 setores parte dos gastos com encargos sobre salários. É um buraco a mais nos cálculos para fechar a conta do Executivo. Por outro lado, na contramão do intento do ministro, um ofício de sua pasta sugere a inclusão de R$ 100 bilhões em despesas adicionais no Orçamento de 2022. A explicação seria a da necessidade de aumento dos recursos para benefícios previdenciários, seguro-desemprego e abono salarial.

É sabido, o cobertor curto das contas públicas não cobre, nem de perto, o volume exorbitante de gastos, discricionários ou não, e o mar de emendas, essas em crescimento constante para saciar as vontades políticas. É preciso uma reengenharia séria na destinação dos recursos. A revisão dos empenhos obrigatórios, por exemplo, surge como pré-condição para a garantia do programa assistencialista, recém-criado pelo governo, batizado de Auxílio Brasil, prometido na casa de R$ 400 por beneficiário. Com tantas e tão mal planejadas ações é inevitável que, um dia, a corda arrebente. E isso pode não demorar muito. Daí o esforço do ministro na cruzada de conter a sanha dispendiosa do capitão. O tal “agrado ao funcionalismo”, que Bolsonaro disse querer fazer — “que seja de 1%”, alega ele — surgiria como medida capaz de sozinha estourar o dique. A pressão está enorme e os técnicos são unânimes em anunciar que pedem o boné se os abusos continuarem. Muitos já tomaram o caminho de casa pelo mesmo motivo. Principalmente quando o ministro concordou com o estouro do teto e o calote dos precatórios. Para Guedes, a situação não ficou nada confortável. Nem internamente, muito menos no relacionamento com os demais convivas de Brasília. Decorrência disso, ele não conseguiu levar adiante nenhuma de suas promessas da pauta liberal a qual se propôs. É tido como alguém que promete muito e entrega pouco. Ou quase nada.

Carlos José Marques Diretor editorial