Um seleto grupo de 81 empresas brasileiras domina atualmente um dos negócios mais poderosos e restritos do País: a venda de material bélico e serviços para as Forças Armadas. Juntas, as máquinas de guerra formam um mercado que deve movimentar este ano cerca de R$ 1,4 bilhão. Os nomes de algumas dessas parceiras das Forças Armadas ficaram conhecidos em meio à divulgação de projetos da Defesa. A lista das fornecedoras, no entanto, sempre foi mantida em sigilo. DINHEIRO teve acesso à relação. Nela, é possível encontrar nomes conhecidos como Embraer, Forjas Taurus e Pirelli. A maior parte, no entanto, é identificada apenas por quem conhece o assunto. É o caso da Acron, a empresa de criptografia dos militares, a CBC, produtora cartuchos, e a Mectron, fabricante de mísseis.

Das 81 empresas, 13 são empresas da área aeronáutica, sete dedicam-se à engenharia naval, 21 são estaleiros e 40 fazem sistemas de defesa ou armamentos. Nem todas dedicam-se exclusivamente aos militares. A Pirelli, por exemplo, tradicional fabricante de pneus, aparece na lista como fornecedora de cabos elétricos para a engenharia naval. Na seção de armamentos estão empresas como a Atômica, que fabrica sistema de simulação de granada e produtos químicos, e a Blitz, que faz cofres para munição. Na lista também figura a Mectron, a principal fornecedora de mísseis para as Forças Armadas. A empresa, localizada em área de 30 mil metros quadrados em São José dos Campos, tem 130 funcionários e é parceira dos militares há 10 anos. ?É preciso ser realista. Não se pode esperar grandes saltos no negócio. É um mercado estável e de longo prazo?, diz Rogério Salvador, diretor-comercial da Mectron.

De fato, as regras dos negócios da Defesa são tão peculiares quanto os produtos que ela consome. O orçamento do principal cliente, as Forças Armadas, é limitado e sofre os cortes exigidos pelo governo. Este ano, o orçamento previsto é de R$ 1,4 bilhão. No ano passado, gastou-se R$ 1,2 bilhão. Não é um valor irrisório. Só 9,4% do orçamento da Defesa sofreu cortes do governo, enquanto esse porcentual foi de 40,7% no caso da Agricultura. Mesmo assim, não é fácil depender de um cliente que pode fazer um grande negócio em um dia e manter as torneiras fechadas no outro.

Foi exatamente esse problema que causou turbulências no negócio da Acron, empresa que aparece na lista como a única empresa de criptografia das Forças Armadas. Como a empresa sempre dependeu dos militares, seu negócio ficou muito sensível aos cortes da Defesa. Hoje, a Acron procura novos sócios e pretende atender clientes privados. ?Podemos ganhar mais vendendo nossos produtos para outras empresas?, diz Antonio Monclaro, sócio-fundador da Acron. A criptografia é um dos negócios mais sensíveis da Defesa. Por meio desse método, é possível transmitir com segurança dados confidenciais pelo telefone e computador. Mesmo assim, a Aeronática e a Marinha pagam valores irrisórios pela manutenção dos sistemas, segundo a Acron. No caso do Exército, foi fechado no ano passado um pacote de atualização e manutenção do sistema de computadores do Exército. A empresa cobrou 10% do valor do parque instalado pelo serviço, o que rendeu R$ 40 mil. Se o serviço fosse feito por uma multinacional, esse porcentual seria de 20%, segundo Monclaro.

?As empresas estão procurando não depender apenas da Defesa e oferecem seus produtos para outros países?, diz um consultor da área de defesa. A Embraer é um bom exemplo dessa nova tendência. A empresa, que vende aviões comerciais, também é fornecedora de aviões de defesa para outros 20 países. Tudo isso sem perder de vista o cativo mercado militar brasileiro. Este ano, a Embraer vai cuidar do programa de modernização dos Mirage F-5E/F, da FAB. O projeto, orçado em US$ 285 milhões, inclui sistema de navegação, radar multimodo, além da qualificação dos armamentos. Em abril, a Embraer e outras 240 empresas brasileiras e estrangeiras do setor de Defesa vão expor seus produtos para as Forças Armadas do Brasil e de outros 36 países em um feira no Rio de Janeiro. A idéia é cativar os militares e costurar parcerias entre si. O número de expositores é o dobro daquele apresentado há três anos. Prova de que mesmo restrita, a indústria da Defesa é promissora.