Ele conhece como poucos sua terra (Ribera del Duero, ao norte de Madri), as uvas que nela vingam (especialmente a tempranillo) e a arte de envelhecer vinhos em barricas de carvalho (em alguns casos, por mais de 30 meses). Safra após safra, desde 1968, quando se tornou enólogo da empresa Bodegas Vega Sicilia, Mariano García tem demonstrado tamanha precisão e regularidade no preparo de grandes tintos que até cabe compará-lo a uma máquina. A Máquina de Fazer Espanhóis, para citar o belo livro de Valter Hugo Mãe. Isso porque, em paralelo ao cargo de diretor enológico que ocupou até 1998 na Vega Sicilia, ele presenteou o mundo com outros vinhos que merecem destaque entre os melhores da Espanha. É o caso das vinícolas Mauro e San Román, das quais é o dono, e da Aalto, na qual tem uma participação societária e é também o enólogo.

Seu mais recente projeto é a Bodega Garmón, inaugurada em 2016 em Olivares del Duero. A primeira safra elaborada por lá obteve 93 pontos na avaliação de alguns dos principais críticos do mundo, como Robert Parker, e das revistas Wine Enthusiast e Adega. A safra 2017, que acaba de chegar ao Brasil pela importadora World Wine (R$ 680), surpreendeu o inglês Tim Atkin, que deu ao rótulo 96 pontos. “Queremos que cada vinho expresse sua origem, por isso construímos uma bodega em cada terroir. Isso dá mais personalidade”, afirmou García durante uma live para jornalistas brasileiros na quarta-feira (10).

O HOMEM E A TERRA O enólogo que elevou a qualidade do vinho espanhol e um vinhedo de parreiras baixas e pouco rendimento. Segundo ele, “a combinação de uvas de diferentes parcelas dá maior complexidade” (Crédito:Divulgação)

A Bodega Garmón nasceu a partir de uma busca por vinhedos antigos (até 80 anos), de altitude (alguns situados a 1 mil metros), em minifúndios (com área de dois a três hectares), onde as parreiras são baixas e produzem pouco, no máximo 2,5 toneladas por hectare (para vinhos finos, a produtividade usual é de cerca de 8 toneladas). Segundo García, essa combinação de fatores resulta em uvas de maior concentração e em bebidas mais complexas. “São vinhos de guarda, que suportam 15 anos sem problemas, mas podem ser bebidos já”, disse.

Depois da fermentação alcóolica, feita com leveduras autóctones, o Garmón passa pela fermentação malolática, que é a conversão de ácido málico em ácido lático. Feita em em barricas de carvalho francês, ela reduz a acidez e arredonda os taninos. Depois, envelhece por mais 18 meses nas barricas.

GASTRONÔMICO O Garmón não é opulento, mas contundente. Apesar do longo estágio em madeira, não aporta no nariz notas chamativas derivadas da madeira. O mesmo vale na boca. É fresco e direto. Para seu criador, isso o torna mais gastronômico, de modo a ir bem com a comida sem se tornar enjoativo.

PONTUADO O Garmón Continental, cuja safra 2016 obteve 93 pontos de Robert Parker e das revistas Wine Enthusiast e da Adega. Para Tim Atkin, a de 2017, que chega ao Brasil pela World Wine (R$ 680) merece 96 pontos. (Crédito:Divulgação)

Nos últimos anos, a qualidade dos vinhos da Ribera del Duero tem evoluído rapidamente e chamado a atenção da crítica. Muito disso se deve ao esforço de pequenos produtores em dedicar mais atenção aos vinhedos. Mas é inegável a contribuição da genialidade de Mariano García. Seus vinhos são a maior prova disso.