Para tentar deixar claro o risco de intervenções nos preços de combustíveis, um representante das distribuidoras no Brasil fez uma comparação polêmica: “A Venezuela começou assim”, afirmou Leonardo Gadotti, presidente da Plural, que reúne empresas como Shell, Ipiranga e Total. Ele respondia à ameaça de Brasília usar o poder de polícia para garantir, na bomba, a redução anunciada pelo Planalto, após a greve dos caminhoneiros. Embora seja um caso isolado, o alerta nunca é demais. Após anos de congelamentos de preços, a Venezuela, dona da maior reserva de petróleo do mundo (302 bilhões de barris), enfrenta dificuldades na produção de óleo e não conseguirá aproveitar os benefícios da alta na cotação quando mais precisa.

Endividada, a estatal PDVSA passa por problemas operacionais. Desde sua fundação, em 1976, ela vem sendo fundamental para a economia venezuelana. Ainda hoje responde por cerca de 90% das exportações. Após um prolongado período em queda, o avanço de quase 20% no preço do barril de petróleo, neste ano, seria uma boia de salvação, mas ficará limitado devido aos desafios da empresa. Poços férteis são abandonados por problemas técnicos e milhares de empregados pediram demissão. Com a falta de investimentos em extração e de equipe qualificada, a produção caiu mais de 30% desde meados de 2016 (confira o gráfico ao final da reportagem).

No último balanço oficial, referente a 2016, o faturamento da empresa foi de US$ 42 bilhões, uma queda de 24% em relação aos US$ 55 bilhões de 2015. No mesmo período, a receita da Petrobras subiu 16%. “Considerando os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), o grupo que mais produz no mundo, o maior fator de risco quanto ao fornecimento mundial é, e continuará sendo, a Venezuela”, diz Neil Atkinson, economista da Agência Internacional de Energia. Outros países do bloco, encabeçados pela Arábia Saudita, esperam aumento na produção. A falta de transparência da companhia dificulta saber quanto se investe na extração. No entanto, a queda nos números dá indícios, segundo analistas, de má gestão. Como outras estatais da Venezuela, a PDVSA emprega apoiadores do regime e é comandada pelo major-general Manuel Quevedo.

Seu atraso operacional é ainda mais gritante se consideradas as projeções econômicas do país. Neste ano, o PIB deve cair 15% e a inflação superar os 13.000%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). E o quadro não deve mudar tão cedo. O presidente Nicolás Maduro acaba de se reeleger para mais seis anos, num pleito contestado internacionalmente. “A eleição não mudou nada”, afirma Carlos de Souza, economista da consultoria britânica Oxford Economics. “A economia continuará a encolher e a hiperinflação irá acelerar ainda mais.”