Enquanto o coronavírus parece finalmente se afastar, alguns comportamentos devem permanecer por muito tempo. Pelo menos é o que sugere o novo perfil de consumidor brasileiro, agora mais consciente da importância de hábitos saudáveis. Aproveitando a nova tendência, e torcendo para essa moda permanecer, a rede varejista de roupas esportivas Track&Field está com um plano já em ação. A companhia fez IPO em outubro de 2020, quando levantou R$ 492 milhões. Com a dinheirama, a estratégia é inaugurar, ainda neste ano, o maior número de lojas da história da rede (a quantidade de unidades não foi divulgada) e transformar 76% das 262 lojas em omnichannel. “Pretendemos continuar encontrando mercado para crescer através das nossas linhas de produtos e plataformas de experiência”, afirmou Frederico Wagner, CEO e cofundador da Track&Field. “Ainda temos bastante para fazer.”

Para acompanhar as mudanças do mercado, a varejista de roupas esportivas, nascida em 1988, abriu um novo Centro de Distribuição na cidade de Osasco (SP), quadruplicando a capacidade de estocagem e distribuição, para dar suporte à jornada de compras digitais. E hoje esse comportamento do consumidor não passa apenas por receber os produtos com rapidez e da forma que desejar. Incluem conteúdos muito além das compras. Um exemplo é o aplicativo TFSports, que já existia bem antes de a pandemia chegar, mas ganhou relevância no isolamento social. A ferramenta se transformou em uma plataforma de aulas gratuitas, corridas virtuais e divulgação de conteúdos relacionados à prática de diferentes esportes, como a ioga.

COMANDO ESTRATÉGICO CEO Fred Wagner tem plano de crescimento baseado em abertura de lojas físicas mais atuação Omnichannel. (Crédito:Gladstone Campos )

Para o CEO da varejista, é nos mais de 500 treinadores cadastrados na plataforma que está a chave de expansão da rede. “Queremos, como marca, empoderar o treinador, fazendo com que ele ganhe dinheiro, seja dando mais aulas, seja vendendo nossos produtos”, disse o executivo. Hoje, a plataforma dispõe de quatro aulas gratuitas e a possibilidade de criação de treinos extras remunerados, de acordo com a demanda dos alunos e oferta dos treinadores.

Essa transformação do treinador em vendedor, em uma espécie de manequim vivo, é uma maneira de ampliar a capilaridade da Track&Field principalmente em cidades menores onde, afirmou Frederico Wagner, houve uma descentralização do consumo. E foi pensando nessa descentralização que a rede abriu, no ano passado, novas lojas em 20 cidades brasileiras. No total, foram inauguradas 35 unidades, o maior número nos últimos cinco anos. Hoje, do total de 262 lojas, apenas 39 são próprias. O investimento para uma franquia da marca varia de R$ 350 mil a R$ 600 mil, de acordo com o tamanho e a localização.

40% é o porcentual de vendas que se originaram digitalmente, seja por WhatsApp, QR Code ou outras ferramentas

O avanço nas lojas físicas de rua e shopping e nas soluções digitais leva a um inevitável e irreversível mergulho ainda mais profundo na omnicanalidade. A participação do e-commerce da Track&Field saltou de 3% em 2019 para 15% no início de 2020. Mas esse indicador não será mais medido. Isso porque o cofundador da companhia acredita que não exista mais essa divisão. Para ele, o costume do consumidor com as facilidades do on-line rompeu com o que antes eram dois mundos distintos, e que hoje se misturam em um cenário sem fronteiras.

Por isso, o novo indicador medido pela companhia é participação digital no início das vendas, seja em canais como WhatsApp, QR Code, e-mail marketing ou até pelo Google. Levando em conta esse novo indicador, o porcentual passa a representar 40% do total de vendas. Com aumento de 17,3% no ticket médio (para R$ 355,64) no comparativo de 2020 com o ano anterior. A estratégia está pronta. “O espaço no guarda-roupa para peças confortáveis e esportivas aumentou”, afirmou o executivo. “Vamos trabalhar para oferecer mais produtos dentro dessa linha.”