Uma nova indústria, por vezes mal instrumentada e sorrateiramente manipulada, despontou no horizonte e está ganhando força acelerada para diversos serviços. O disparo em massa de mensagens, memes e informações (ou desinformações, conforme o remetente) nas redes digitais alcançou seu auge até aqui nessas eleições. Foram inúmeros os casos de contratações milionárias de pacotes de comunicados falsos, artigos, filmetes de conteúdo duvidoso, vídeos com depoimentos dirigidos e quetais para tentar influenciar na corrida presidencial. As fake news imperaram em toda a sua riqueza e criatividade de produção nessa disputa. A tal ponto que despertou a resistência e críticas das autoridades.

O Tribunal Superior Eleitoral e a Procuradoria Geral dispararam investigações para apurar eventuais desvios de empresas que contrataram ou foram contratadas para atuar de maneira considerada eleitoralmente irregular. O próprio aplicativo WhatsApp chegou a suspender o atendimento a alguns clientes e a bani-los de seu ambiente temporariamente. Em relação ao dispositivo, pontualmente, o Brasil se converteu em um case mundial. Cada suposto contrato de impulsionamentos por essa via chegou a ser cotado na faixa de R$ 12 milhões, segundo revelações do Jornal Folha de S.Paulo.

Os números ainda são obscuros, mas a experiência acendeu o sinal de alerta para as instituições do Estado sobre o perigo crescente nas redes – no combinado perigoso está uma legislação frouxa, investigação precária e poucos especialistas disponíveis para rastrear tais práticas. Não foi decerto o primeiro grande escândalo comercial dos aplicativos digitais. Nos EUA, na eleição de Donald Trump, o Facebook polarizou as atenções e acusações nesse sentido. A ciberintoxicação entrou na ordem do dia com o bombardeio, sem controle, das fake news em massa. De todo modo, não é só com a desinformação que essa onda vem sendo surfada. Há o outro lado, mais positivo, que é o do aparecimento de ferramentas eficazes para a difusão em massa de mensagens dirigidas por essa ou aquela empresa. Ou até mesmo por meros internautas.

Desde a simples e rápida emissão de cartões de natal a milhares de clientes até a propaganda de conteúdos específicos com determinado fim, espalhados em um único clique a todos os elos da cadeia corporativa, as redes sociais estão abrindo as portas para uma espetacular forma de alcance de comunicação. De custo baixo e eficiente. Várias companhias já se posicionaram nesse mercado para atender as demandas na rede – seja para incrementar audiências, imagem ou mensagens de um setor de atividade ou negócio. Fora do plano eleitoral, as possibilidades são inúmeras e bastante rentáveis. Não é razoável simplesmente condenar o meio apenas devido à avalanche de fake news. Por vias legais muitos estão fazendo uma revolução silenciosa e lucrativa.

(Nota publicada na Edição 1093 da Revista Dinheiro)